Poetas Fingidores e Leitores Cúmplices

Outro dia vi um autor comentando que recebeu varias mensagens de apoio relativas a um soneto que ele escreveu sobre alcoolismo, como se ele fosse alcoólatra. Mas ele não é, o que não o impede de escrever sobre o assunto.

Pois um autor que tem sensibilidade pode e deve escrever sobre todos os assuntos.

Para escrever sobre um assunto não se necessita vivenciar na própria pele as tragédias ou comedias da vida. Senão apenas gays poderiam escrever sobre homossexualismo..., cornos escreverem sobre traição e etc.

Já pensaram como ficaria um autor sensível, como Shakespeare, por exemplo, com toda a complexidade de seus personagens!

Muitos autores optam pelos heterônimos quando desejam expressar em poesia sentimentos diversificados. Mas, talvez não seja uma boa solução, exceto se os críticos fizerem artigos o explicando.

O fato é que não se deve confundir o autor com a obra. O autor pode exprimir na obra aspectos da sociedade que não são, necessariamente, os seus pontos de vista pessoais. Eis porque todo poeta é, afortunadamente, um fingidor. E o leitor, seu cúmplice, um piscador d’olhos.

PS ; Fiz um soneto chamado “Guilhotina” mas não sou favorável a pena de morte.

Apenas para recordar, observem o que diz F. Pessoa:

Fernando Pessoa

Cancioneiro

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.

in

http://www.secrel.com.br/jpoesia/fpesso14.html