Megalópole do Sertão

Passeando hoje pela manhã pelas ruas de Feira de Santana, percebi muitas coisas que já não faziam parte da minha rotina em São Paulo e das quais achava que havia apagado da memória.

As ruas da cidade

Meu estilo capilar do séc XXI, feito meticulosamente à base de cosméticos de última geração, após 5 horas de sofrimento em salão de beleza, transformou-se num blackpower anos 70 que deu trabalho para o pente entrar, graças às correntes de ar e às nuvens de poeira das ruas não-pavimentadas da cidade que tanto amo, Feira de Santana. Experimentem fazer uma caminhada principalmente próximo às 3 obras simultaneas dos viadutos nas principais avenidas e saídas da cidade, deslocando carretas, ônibus, carros, motos e carrinhos de mão, tudo junto, para vias secundárias, de chão de terra, coisas do governo municipal.

O ar puro do interior

Meu olfato foi ativado com recordações da mais tenra infância, lembrando-me as paradas de 7 de setembro, com o odor de estrume de cavalo e sua presença marcante pelas ruas mesmo fora da data comemorativa. Bem aqui, na megalópole do sertão, Feira de Santana.

O carisma dos baianos

Cantadas feitas por criaturas (me recuso a usar a terminologia homem) que utilizam bicicleta ou óculos timbaleiro (sim, isso ainda é moda em Feira!). Ah, senti tanta saudade do jeito rude e brejeiro que só eles têm de falar assim: gostóóóósa, ihhhhrsss! A melhor cantada de todos os tempos foi "Aí, ganhei meu dia, 'cabá' diz que boneca não anda". Tenho certeza que foi por essas e outras foi que os paulistas não me conquistaram.

O som das raízes

Como pude esquecer do ritual tribal dos "pebóis" aos finais de semana que param em frente aos trailers, com suas latas de cerveja, abrem o fundo do carro com o som no máximo para que os vizinhos possam curtir a melodia de grandes hits como "o badalo do negão".

Nâo importa que é possível achar a previsão meteorológica dos próximos 4 dias de Feira no site da CNN, não tô nem aí que Feira está na Larousse, muito menos me afeta o Jô fazer alusão a proximidade da cidade com qualquer outro ponto do planeta.

Deve ser alguma conjuntura astrológica, ou algum tipo de Triângulo das Bermudas ocasionado pelo entroncamento rodoviário, realmente não achei ainda uma explicação plausível para Feira ser assim, como a Bizarrolândia do Superman.

Feira tira o brilho da Bahia, sinceramente.

Andréa Sant Anna
Enviado por Andréa Sant Anna em 22/12/2008
Código do texto: T1348979
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