OS INDIOS LOIROS

Quando cheguei ao Amazonas, no início dos anos 80, fui trabalhar numa cidade do interior. A curiosidade era muito grande sobre a maioria das coisas. Quando tive meu primeiro contato com o Pau-rosa, fiquei extasiado. Uma madeira perfumada de onde se extrai uma essência que serve como fixador dos mais caros perfumes do mundo. Ao visitar a primeira vez uma usina de extração da essência fiquei perfumado por vários dias. Deram-me explicações sobre como as árvores são extraídas do interior, como são transportadas até as embarcações que as levam até a usina. Trabalho duro, quase de escravo.

Foi então que me falaram de um japonês que era especialista nisso. Disseram-me que ele tinha uma equipe composta por índios loiros que carregavam os troncos desde a mata até o porto. Rachavam no machado oas troncos mais grossos e deixavam no ponto de embarque. Fiquei curioso. Eu ainda não sabia da variedade de ramificações indígenas existentes na Amazônia. Não sabia que havia 86 idiomas diferentes praticados por essas tribos. Contudo, jamais imaginei um índio loiro. Ainda mais algum que se sujeitasse a um trabalho tão duro quanto o de extrair a madeira Pau-rosa.

Passei meses tentando fazer contato com o tal japonês. Na verdade era um descendente de terceira geração, cujos antepassados foram atraídos para o Amazonas em busca de exploração da terra. Ao encontrá-lo, não contive a curiosidade e perguntei, o mais educadamente possível.

- Me disseram que o senhor tem uma equipe de pessoas loiras que trabalham consigo. Pode me dizer de onde que são e como explicar que são claros?

- Água oxigenada, né? Quando lava a cabeça com água oxigenada o cabelo fica branco, né?

Minha expectativa de grande descoberta antropológica morreu ai mesmo.

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 27/12/2008
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