O ÚLTIMO DOMINGO DE UM ANO

Enfim, último domingo do ano. A sensação de que mais um ciclo está sendo vencido traz uma enorme paz, ao mesmo tempo em que se renovam – para todos, acredito eu – as esperanças para o próximo intervalo de tempo correspondente a uma revolução da Terra em torno do Sol, que estará se iniciando a partir do próximo domingo.

É sempre assim o final de cada 12 meses: refletimos bastante sobre tudo o que realizamos de bom (e até de ruim), lamentamos (bastante também) por tudo aquilo que deixamos de realizar e que, se tivéssemos realizado, com certeza, a satisfação – seja pessoal ou profissional ou até ambas – seria a completude de nossos desejos e, por fim, agradecemos ao Todo Poderoso pelo renovar da vida a cada dia que nasce.

Pensar-me nos vários cotidianos escritos, com comentários e aconselhamentos – durante estes 365 dias –, é fazer-me memória e transportar-me para cada fragmento que detalhei em subscritos e que adicionei ao gosto do leitor, de cada domingo, de cada semana, como subsídio para suas reflexões – independente do gosto de cada um. É, também, saber-me lido, pois a resposta veio rápido, em forma de correio eletrônico.

Fiz, neste ano, as 48 lições que o espaço me permitiu. Falei sobre a dor da perda do amor, da lembrança saudosa daqueles que se foram, da inveja, do ciúme, da falta de respeito para com o próximo, agradeci aos amigos, falei dos amores que deram certo, do prazer de lecionar, de como se fala com o olhar, da nudez e até me fiz carne e escrevi sobre a dor de ser apunhalado, assim como foi Julius Caesar.

Mas tive bons momentos neste percurso: acabei por conhecer a redação de um jornal – e até estagiei, como pré-requisito de término de curso –, seus repórteres, fotógrafos, redatores, revisores, digitadores e editores. Todos excelentes colegas de profissão. E fui premiado, por duas vezes, como escritor: uma, como ganhador do primeiro Concurso de Contos de Caminhoneiros – promovido pela Mercedes Benz – e, outra vez, como ganhador do prêmio Rota Batida III – promovido pela Fundação Vingt-un Rosado, mantenedora da Coleção Mossoroense em parceria com a Petrobrás – na categoria “Crônicas”.

Infelizmente, não acredito ser a minha vocação de jornalista trabalhar em redação. Acredito mais na carreira de escrever. Contudo, admiro o trabalho, o corre-corre, a luta contra o tempo, a busca frenética pelo furo de reportagem, a destreza e a rapidez em se buscar a notícia (ouvindo os lados envolvidos e, depois disso, investigando a veracidade de todos eles), o controle de se tornar imparcial diante dos fatos e apenas retratá-los como eles são (a despeito das controvérsias de muitos teóricos que não acreditam na Teoria do Espelho), enfim, a profissão em si é fascinante e, com certeza, uma das mais apaixonantes, mas ainda estou cético quanto a minha inclinação para ela.

Só não vi – infelizmente ou felizmente – os famosos ventiladores de teto, as máquinas datilográficas e seus barulhos ensurdecedores quando cada tecla é acionada – parecendo, aos ouvidos, tortura chinesa –, os cinzeiros cheios de “piúbas” de cigarros, o ar meio que rarefeito de tanta fumaça e o chefe explodindo (e sendo explodido pela úlcera gastrointestinal) com o repórter que deixou de fazer aquela matéria sobre Casas & Jardins, mas que cisma em investigar sobre aquele caso, que segundo ele, lhe dará o Pulitzer, já que ele acha parecido com o caso Watergate.

Isso realmente eu não vi. A modernidade se faz presente nas redações de hoje. Computadores de última geração, notebooks nas bolsas dos repórteres, o ar límpido, uma aparente serenidade entre eles que parece não haver um relógio lá na parede indicando que a hora do fechamento da edição está chegando (a não ser que tenha sido uma armação para me fazer mudar de idéia e assinar a minha adesão ao ambiente), a internet ligando-os ao mundo, os celulares como ferramenta indispensável (onde a agenda é a maior preciosidade) e um clima mais para família do que para um ambiente que é, por natureza, agitado.

A todos – editor, colegas colaboradores do Caderno Expressão e leitores – os desejos ímpares de que o novo ciclo se dê de forma harmoniosa, fértil de idéias, com muita paz, saúde e cheio de bons momentos de felicidade.



Obs. Imagem da internet

Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 28/12/2008
Reeditado em 05/12/2011
Código do texto: T1356366
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