No salão de Alox Yu

São dez horas da manhã. Ele chega e sauda a recepcionista com reverência. Mais oriental impossível. Divertido, sorri o tempo todo. Chega a primeira cliente, uma senhora de cinquenta e poucos anos que não sabe falar português. Sem problemas, ele também não sabe.

Os minutos vão passando no relógio atrás da manicure. O salão não é indicado para quem tem pressa, uma vez que Alox é extremamente detalhista. Faz cortes com precisão, tinge como se esculpisse cabelos com cores. E quantas opções de cores...um verdadeiro retrato da cultura pop oriental.

A música típica, as revistas importadas, o chá verde, os ideogramas espalhados pelos frascos nas prateleiras. Sinto-me em um salão pop no centro de Seul. Nem mesmo a mais ocidental das decorações de Natal consegue me trazer de volta. Também estou à salvo do calor de trinta graus, graças ao ar condicionado.

Ele prende o cabelo da cliente com incontáveis elásticos. Em coreano, pede que ela aguarde enquanto arruma em sua cabeça uma touca elétrica extremamente moderna, quase que extraída de um filme de ficção. A recepcionista avisa que estou aguardando, e ele finalmente vem em minha direção. Observa essa pessoa deslocada, mas acima de tudo deslumbrada com o que está vendo. E passa.

Parece bastante preocupado com seus afazeres. Fala alto e gesticula muito. Sai em busca não se sabe de quê; uma revista, uma tintura, uma tesoura. Uma idéia. A minha, fixa, é ir embora, entretanto fui contagiada por essa aura pop. Ela me prende ao sofá e por várias vezes me faz esquecer dos meus compromissos posteriores. Sem querer comprei uma passagem para o Oriente em toda a sua expressão fashion. E receio que seja só de ida.

Carol Porne
Enviado por Carol Porne em 01/01/2009
Código do texto: T1362657
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