CRÔNICA NOTURNA

O meu primeiro amor já não me tem. Assim como a razão escasseia, e a memória se perde nos desvãos do tempo, o meu primeiro amor se perdeu no esquecimento que a distancia traz. Na lenta e paciente agonia das horas inexoráveis que passam, cegas, meu primeiro amor, impaciente, deixou de suspirar por mim. O meu primeiro amor já não anseia por mim. Quantas noites e tantos copos a esperar ansioso, o desejo quase demente para que tudo voltasse ao passado e alí permanecesse estático, eternamente. O meu primeiro amor já não me espera. Muitas esquinas virei, muitos caminhos venci, mas não consegui destruir em mim os gestos acarinhados e hoje tão esquecidos pelo meu primeiro amor.As mãos do meu primeiro amor já não passeiam por mim. A noite, única companheira, vigia meus sonhos, os mesmos de tantas outras noites de suspiros agoniados, de palavras medrosas e carinhos quentes, embora tímidos. O meu primeiro amor nesta noite dorme, e já não sou mais seus sonhos. Agora amanhece. O dia boceja seus primeiros brilhos. As luzes da cidade ainda se agitam recepcionando o sol. As janelas noturnas acordam, preguiçosas. o meu primeiro amor anoitece em mim.