RUA DA PEDRA

Há dois anos estive sentado na porta de entrada da Rua da Pedra. Não quis acreditar que os jovens bem vestidos e até mesmo com uma posição social privilegiada tivessem a coragem de trilhar um lugar tão pobre, ermo e perigoso em busca de Prazer. Custosa, mas dolorosamente, cheguei a crença do que assistia.

Jovens desiludidos, talvez, com os acontecimentos. Outros, certamente, em fuga de seus problemas, fantasmas de suas imaginações. Tantos, ainda, na procura de diversão radical...viagem dos sonhos para um futuro eternamente feliz. E por fim, aqueles que na perseguição ilusória do prazer utópico do momento não mediram consequências em seguir na direção da Rua da Pedra. Viagem, quase, sem volta.

Voltei muitas vezes a esse portal de ilusões e comecei a presenciar a romaria que se seguia em busca da felicidade. Continuei vendo as mesmas criaturas em sua evolução para o caos. Pior, ainda, quando notei que começaram a vir só e depois passaram a trazer novos adeptos para trilhar o mesmo caminho. Acho que só eu vi...

Fiquei triste e quase chorei!

Hoje voltei a sentar na porta de entrada da Rua da Pedra. Fiquei mais triste do que antes e chorei muito. Vi aqueles mesmos jovens que pertenceram a classes elitizadas, empobrecidos, transformados em “mendigos” com seus andrajos surrados e sujos próprios de quem está jogado na sargeta. Alguns pedindo Centavos para inteirar três Reais para comprar uma “pedra”. Outros oferendo produtos de ação criminosa, angariados por meios ilícitos e vendidos por dez por cento de seu valor para conquistar mais um passo em direção ao precipício do vício em que se meteram. Queria não ter visto isto.

Drogas, droga! Porque nos sentimos anestesiados diante de quadros desta natureza? Qual será o mistério determinante dessa atitude? Nossos filhos engolidos pelo ralo da miséria, com certeza da morte prematura, e nós, asistindo tudo, inérteis, sem tomar providências.

Não podemos transferir essa responsabilidade ao Estado, precisamos nos organizar para combater essa questão. Recuperar os que estão viciados e desbaratar os focos de aliciadores. Quem sabe até colocar uma pedra encima da Rua da Pedra.

Pense nisso...

Publicado no jornal Diário da Manhã, coluna Tribuna do Povo no dia 08/01/2009 - Pelotas/Rs.