Travessuras de Crianças.

Uma noite estava no terraço de minha casa olhando as estrelas. Adoro olhar o céu estrelado. Me faz viajar pelo espaço sideral.

Então observei que quando eu era criança, nesta época, inicio das chuvas, sempre apareciam muitos vaga-lumes que enfeitavam o espaço com suas luzes piscantes.

Não aparecem mais. Nunca mais vi em minha cidade um único vaga-lume. Onde será que eles se meteram?

Lembrei que quando criança pegava alguns e colocava numa garrafa de vidro. Tomava o cuidado de tampar com um filó a boca da garrafa para ter sempre ar pra que não morressem e fingia ser minha lâmpada do Aladim. Sonhava que tinha um gênio da lâmpada dentro dela.

Fazia uma porção de pedidos. Pedia uma porção de brinquedos, dinheiro para meus pais e um castelo com uma linda princesa.

Claro que não acontecia nada. Crianças e suas imaginações! Sempre tão cheias de fantasias e carregando uma inocência encantadora.

Depois eu quebrava a garrafa para que os vaga-lumes pudessem sair. No fundo sentia-me decepcionado por que o gênio não aparecia para atender meus desejos.

Mas às vezes eu não era tão assim fantasioso. Tinha minhas traquinagens.

Lembro que minha mãe contratou uma moça para cuidar da limpeza de nossa casa. Ela não foi com minha cara e nem eu com a dela. É o que podemos chamar de antipatia a primeira vista. Não que ela fosse feia, mas não batia a química, sabe?

Estávamos sempre brigando e ela sempre levava a melhor. Isso porque contava pra minha mãe o que eu havia feito e logo recebia um castigo merecido pelas “normas educativas do doce lar familiar”.

Certa feita, por mero descuido derramei cola no assoalho da sala de estar quando colava uma figurinhas no meu álbum. Pedi que ela limpasse o que se negou alegando que ainda faltava lavar os banheiros. Disse-me que eu deveria limpar antes que minha mãe chegasse. Isso eu não fiz mesmo. Achei que ela é que deveria limpar.

Quando minha mãe chegou foi a primeira coisa que ela viu. A cola agora já estava bastante dura. Como reprimenda peguei um castigo que doeu em minha alma. No próximo domingo não iria tomar banho de piscina na casa de meu tio.

Fiquei me roendo de raiva. Implorei, chorei, esbravejei e minha mãe ficou irredutível. O castigo estava decretado e ela nunca voltava atrás.

Jurei a mim mesmo vingar-me da tal moça.

No sábado convidei meus primos para jogamos bola no quintal.

Naquela época o banheiro das empregadas ficava no quintal, junto ao corpo da casa.

Vi quando ela entrou pra tomar banho e sabia que a porta apenas ficava escorada, porque a tranca havia quebrado há algum tempo.

Então veio a brilhante idéia que completaria minha prometida vingança. Esperei para ouvir o barulho do chuveiro e pequei uma enorme pedra logo adiante e arremessei contra a porta. Foi um estrondo enorme. Depois o grito que ela deu tanto pelo susto do barulho que a pedra fez como por se ver nua diante de mim e meus primos.

Fiquei uma hora de joelhos com a cara pra parede depois que ela contou pra minha mãe o que aconteceu.

De outra feita, cismei que não ia para a escola, nem eu nem meus primos. Ia jogar bola até a hora do almoço.

Acordei cedo e após o café, sai de casa para ficar a espera dos meus primos. Sentei-me na calçada a um quarteirão da escola e esperei. Não demoraram eles aparecer e fui logo dizendo:

- Dona Assunção disse que não vai ter aula hoje porque ela está doente.

Só que eu esqueci que os pais deles iam buscá-los de carro ao final da manhã e assim ficariam sabendo da própria professora que não fomos à escola.

Meus primos adoraram a noticia e como estavam perto de minha casa, de pronto aceitaram meu convite de jogar bola.

Foi uma manhã incrível! Jogamos sem parar até que os pais dos meus primos e meu pai apareceram. Queriam saber por que não tínhamos ido à escola. Dona Assunção havia esperado por nós o dia inteiro.

A primeira idéia que me veio na mente saiu boca a fora:

“Ora, foi um menino de corro vermelho que me disse que ela havia mandado avisar a nós...”

Meu tio deixou escapar um sorriso malicioso e completou:

- É... Esse menino devia ser o Saci Pererê...

Meu pai balançou de modo negativo a cabeça e mandou-me para o chuveiro, sem esquecer de dar sua sentença: “Três dias sem sair de casa. Da escola pra casa direto, e nada de bola”.

Mas este castigo eu curti numa boa. Afinal aquela manhã jogando bola com meus primos foi simplesmente formidável.

Criança tem este lado ingênuo e sem maldades. Fazem as coisas por querem usufruir as delicias da vida. Suas mentiras não machucam, mas pelo contrário, até são cômicas.

Carlos Neves
Enviado por Carlos Neves em 09/01/2009
Código do texto: T1376114
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