Lembranças

Estava dentro de mais uma fonte de inspiração, o ônibus, a caminho da universidade quando ouvi um casal de velhinhos conversando sobre sua infância. Sim, eu também me admirei quando vi. Comentavam sobre suas brincadeiras, tarefas, namorados, enfim, contavam com tantos detalhes que pareciam que tinham acabado de passar por tudo. Senti-me com inveja porque eu nem lembrava o que tinha comido no almoço. Parei e refleti que andamos com a nossa vida tão corrida. Já acabamos mais um ano e se parar para escrever o que fiz seria uma das poucas folhas em que não se encheriam de palavras. É tanta preocupação em trabalhar, estudar e trabalhar que acabamos sem tempo para aproveitarmos a vida. Sou a favor do movimento que apóia a criação de mais um dia nos finais de semana, porque somente dois não bastam para tirarmos proveito. E agora chegam as mesmas promessas de finais de ano. ‘Vou dedicar-me mais a mim’, ‘Aproveitar a vida’ ‘ ‘Vou arrumar meu quarto todos os dias’, essas coisas que no segundo dia do ano já esquecemos, porque infelizmente temos a correria que nos faz esquecer. O bom disso é que não vemos o tempo passar. Em contrapartida não vemos os filhos, para aqueles que os tem, crescerem e os velhinhos partirem. Admiro os meus avós que tanto contam da sua infância e suas vidas difíceis, mas bem aproveitadas. O que vou contar para os meus netos quando perguntarem ‘E aí vô o que o senhor fazia quando era pequeno?’. Eu trabalhava, pegava ônibus, escrevia e trabalhava. Se tivesse o poder de parar todos os relógios do mundo eu os pararia, só para dormir mais cinco minutinhos. Quero ser igual a esse casal, poder pegar um ônibus (se divertir dentro dele) e ainda se lembrar em qual ônibus acabou de entrar.

Eduardo Costta
Enviado por Eduardo Costta em 13/01/2009
Reeditado em 13/01/2009
Código do texto: T1382616