Rio 440

Rio 440

Hoje, 1° de Março de 2005, a cidade maravilhosa completa 440 anos.

Daqui do sul de Minas Gerais, conseguimos perceber, por meio de nossos sentidos eletrônicos, como a cidade se enfeitou, e nem precisava, para receber os parabéns da grande diversidade presente nas suas comunidades.

Comunidades diversas sim, mas como resultante uma característica única – o modo de ser carioca: alegre, cordial, gozador e amante fiel do exagero de beleza ajoelhada aos pés do redentor.

Apesar do pouco tempo neste vale das águas no sul de Minas, mas já incorporando alguns hábitos, saí para prosear com outro imigrante, este sim carioca da gema. Nascido e criado em pleno berço do samba, Quintino Bocaiúva, bairro lindeiro da estrada de ferro Central do Brasil, que fica, nada mais nada menos, entre Mangueira- império da Verde-Rosa- e Madureira, onde dividem o reinado, Império Serrano e Portela.

Encontrei meu parceiro de migração para a quietude mineira muito preocupado e tentando compor para celebrar os 440 anos de sua cidade natal. Perguntei por que a dificuldade, já que sua atual atividade é justamente compor.

Respondeu-me: não esqueças que sou analfabeto, musicalmente falando e componho primeiro fazendo as rimas e depois cantarolando em cima das mesmas. Entretanto, neste caso o maestro carioca que me faz os arranjos, compôs uma melodia para celebrar o nascer do Rio e pediu para que colocasse a letra.

Solidário a honrosa tarefa solicitada pelo maestro e à preocupação de meu amigo, fui logo atropelando: tens que falar só no que é bom e belo. Não tem sentido incluíres as conseqüências das desadministrações de sucessivos governos do Rio para celebrar o aniversário da mais bela.

Sem “me mancar”, não percebendo que aumentava a preocupação e a ansiedade do parceiro de migração, continuei: tens que falar nos berços do samba: Oswaldo Cruz, Estácio, Madureira, Vila Isabel. Tens que cantar os Didis, os Zicos, os Ademir, os Castilhos e os Garrinchas, verdadeiros sedutores inescrupulosos das meninas dos olhos e das emoções coloridas lançadas em corais e coreografias à atmosfera do curvilíneo Maracá. Tens que rimar com as curvas das enseadas, das princesinhas dos mares, das garotas de Ipanema, curvas essas geradas num mesmo dia da Semana da Criação, em que o grande Arquiteto do Universo perdeu-Se no Trabalho e exagerou em Criatividade e Perfeição.

Tens que ir buscar num canto do teu coração, mesmo que perdido na saudade, um canto que cante os cantos do sax do Pixinguinha, o bandolim do Jacob, a poesia de Vinicius, Cartola e Chico, a banda do Zé Pretinho, os violinos dos Violinos do Rio, a viola do Paulinho, os gogós de Elizete, Elza e Emílio e até o trim, trim, trim, mas não do “21”, ou do “31”, pois a celebração é por 440, mas o do telefone do Donga...

Fui interrompido por certa rispidez nervosa e indicativa de que meu amigo necessitava não da minha ausência, especificamente, mas da magia da solidão, que colore a alma dos homens de imagens e os impelem a registrar em palavras, formas rimas, melodias...

Bati em retirada quase magoado e frustrado, pois me havia convencido que estava participando, mesmo como assessor daquele trabalho de composição musical.

Desorientado, voltei para casa, refugiei-me na leitura de correios eletrônicos e só decidi registrar esta crônica meia mineira, meia carioca, depois de ter recebido um telefonema me comunicando que meu amigo concluíra o trabalho e que batizara a composição de “Um canto do Rio”. Acrescentou, ainda, que agradecia meu esforço em ajudá-lo e que algumas de minhas sugestões haviam sido incorporadas.

“Um Canto do Rio” são, portanto, rimas para celebrar a iniciativa de Estácio de Sá que, apesar de toda sua experiência não percebera que estava sob as bênçãos de São Sebastião, não só fundando uma cidade, mas indicando para todos um dos recantos mais belos do planeta. Tão pouco previra que, como uma espécie de reconhecimento, seus nativos o homenageariam batizando um dos bairros-berços do samba de “Estácio de Sá”.

Um Canto do Rio

Fui buscar um canto

dentro do meu coração.

para cantar o Rio,

sublime criação

Canto do Rio,

seu sol de janeiro.

Canto seu riso,

o seu jeito de falar,

de andar.

Fui buscar um canto

dentro do meu coração.

para cantar o Rio,

sublime criação.

Canto do Rio,

samba em fevereiro.

Canto seu brilho,

o seu jeito de dançar,

de amar.

Canto: Didis, Zicos,

Garrinchas, Adílios,

Terezas da Praia,

Ademires, Castilhos,

do mar, as princesas,

Elisetes, Emílios,

canto Rio de Janeiro.

Canto: cantos do rio,

Jacós e Cartolas,

Vinicius e Chicos,

beleza da orla,

poetas no cio,

a ginga com a bola

canto Rio de Janeiro.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 13/01/2009
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