Princesença
          Normalmente nos perguntamos, ao terminar de ler uma história: "Hum...  Que outro final lhe daríamos?" 
          (Muitas sequer merecem esta reflexão.)

          Em Marina não: a densidade onírica de suas narrativas nos conduz a perguntas como:  "Que finais?  Que outras histórias poderiam, a partir desta, surgir e prosseguir?"

          Criadora travessa, ousada, curiosa, ela apedreja as vidraças das palavras corriqueiras.  E de tal coragem vêm não as chineladas (dos críticos), mas os afagos (dos leitores e críticos), ao perceberem a surpreendente visão não de outras vidraças, porém de uma mansão resplandescente de vitrais, palavras além das palavras.

          Milagre? 
          Não, não: são os esforços contínuos dela Marina, na seleção das pedras certas, da pontaria, do "Triiiim!" dos vidros denotativos partindo-se, do poder demiúrgico da reconstrução verbal.  Eis ante nós o verdadeiro casarão plurissignificativo, visível num rincão onde circulam, passeiam, convivem livres e felizes os vocábulos, já sob o encantamento, num labirinto multicor de termos, idéias, ânsias, devaneios.

     Palavras que voam. Que pousam. Que nos acenam e cortejam, cativando-nos.  Palavras-princesas que se mudam em: 
          povo 
          ministros 
          vizires 
          sultões 
          crianças 
          aias 
          pajens 
          menestréis 
          cavaleiros 
          avós... 
          e novamente princesas.

          Sua escritura de pique-esconde nos estimula à troca de papéis: ora narratário, ora crítico; aqui narrador, ali personagem...

          Entretanto, nada de redes passivas, camas comportadas, fundas poltronas triunfantes: seus personagens e enredos nos expulsam dali e nos fazem metáforas suas.  Que felicidade!      

          Uma literatura etíope-brasileira --- flor de todas as Áfricas.


          
Envolvi-me neste trabalho durante 20:00h, até 03/08/2010.
Jô do Recanto das Letras
Enviado por Jô do Recanto das Letras em 14/01/2009
Reeditado em 03/08/2010
Código do texto: T1385264
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