O MAR E EU

A manhã é radiante, ensolarada e o calor próprio de um dia de verão.Estou na bela Praia da Armação do Pântano do Sul, na Ilha de Santa Catarina.A paisagem, exuberante, formada pela faixa de areias brancas, delimitada ao norte pelo Morro das Pedras e ao sul pela Ponta da Campanha.Uma moldura, de vegetação e de flores do Parque Municipal da Lagoa do Peri, contorna a praia.

Sentado, em minha cadeira de praia, observo as lanchas de pescadores que saem do trapiche da Ponta da Campanha em direção à Ilha do Campeche, que se posta à minha esquerda.

Chama-me atenção a revolta do mar, com ondas grandes e agitadas, balançando as lanchas como se fossem barquinhos de papel.Os pescadores se esforçam, lutam para darem rumo e segurança a seus barcos.

O mar é um elemento da natureza que sempre me causa fortes sentimentos e emoções.

Na minha infância no Farol de Santa Marta, onde trabalhava meu pai, de cima do morro espiava o mar diariamente.Gostava de ver o mar nos dias de calmaria, de longe parecia uma grande piscina, dessas que as crianças adoram brincar.Gostava de correr na Prainha, no raso, chutando as pequenas ondas como se fossem bolas de futebol em movimento.Os banhos de mar, nos dias ensolarados, sempre me transmitiam uma sensação de vitalidade, de saúde e de felicidade.

Só não gostava do mar nos dias de ventania, quando o vento zunia, as ondas se encrespavam, ficavam imensas, furiosas e ameaçadoras.Nessas ocasiões me dominava um sentimento de que o mar se transformava num ser furioso, maligno, ávido de devorar pessoas e destruir embarcações. Durante a noite, com o barulho do vento assobiando forte, feito um desesperado na janela do meu quarto, me acordava e se apossava de mim um temor incompreendido, custava a dormir novamente.Nesses dias de ventania, ficava inquieto, solitário e temeroso.Só me tranquilizava quando voltava a calmaria.

Poucos foram os anos, de minha vida, que vivi longe do mar e quando ele não estava presente procurava-o. Nos fizemos amigos e companheiros.Ele foi testemunha do meu desenvolvimento como pessoa. Ouviu, pacientemente, minhas confidencias existenciais, se fazendo presente nas minhas caminhadas matinais, nas pescarias e nos momentos de lazer.Discutimos vários projetos e sonhos e acompanhou minhas vitórias e derrotas na vida particular e profissional. Aprendi muito com o mar.

E agora, sempre que posso, volto a visitar o velho mar e faço isso como forma de pagamento de um tributo a esse meu primeiro mestre, que me ensinou que para me tornar um ser humano feliz precisava, antes de tudo, conhecer, compreender e aprender a lidar com minhas inquietações, temores e angústias. Aqueles mesmos pensamentos, sentimentos e emoções que me visitavam, lá atrás, no morro do Farol de Santa Marta.