SENTAR E ESCREVER
Tem dias que sentar e escrever são tarefas fáceis, quase uma necessidade fisiológica, da qual dependo para sobreviver. Tem dias que sentar e escrever são tarefas extremamente penosas. Nestes dias, apenas sento. Como sento e não escrevo, decido deitar um pouco. Ao deitar-me, naturalmente, adormeço.
Quando acordo, minutos ou horas depois, volto a sentar. Novamente, sento e não escrevo e as horas correm. Na tela, permanece vivo somente o título provisório que usei para não esquecer sobre o que preciso escrever.
De repente, as horas ganham asas e voam. Eu me levanto, ando pela casa e sento-me. Então, olho pela janela e vejo as horas voando por entre as nuvens e rindo-se.
Será que já é tarde? Impossível precisar, já que na parede da cozinha ficou preso por um prego enferrujado pelo tempo, simplesmente um relógio vazio.
Agora chove e necessito fechar a janela para me proteger das gotas de chuva que insistem em se atirarem por entre as grades, estas mesmas que me negaram passagem para voar atrás das horas, capturá-las e congelar seus movimentos precisos e ininterruptos enquanto eu estiver aqui sentada, apenas sentada...