ATÉ QUANDO?

Ângela Pereira*

“Se você é capaz de tremer de indignação

a cada vez que se comete uma injustiça no

mundo, então somos companheiros.”

Ernesto Che Guevara

Milhões de pessoas pelo mundo fazem essa pergunta... Até quando?

Até quando, a humanidade insistirá em se destruir pela ganância, pela manutenção de sistemas político-econômicos desumanos, pelo imperialismo e desrespeito à soberania dos povos, pela intolerância com as diferenças religiosas e étnicas?

Iniciado no dia 27 de dezembro de 2008(1), o ataque de Israel a Palestina resultou em mais de mil e trezentos palestinos mortos, sendo 410 crianças e 108 mulheres, e mais de 5.300 feridos, segundo serviços de urgência de Gaza, a maioria deles não têm relação com grupos militares palestinos, ou seja, são civis. Do outro lado 20 mortos. As péssimas condições de existência cada dia ficaram mais graves: falta eletricidade e gás para aquecer e iluminar a faixa de Gaza em pleno inverno e baixas temperaturas; falta comida, remédios, água potável e os hospitais estão lotados.

A desproporção dos ataques foi absurda e a mídia mentirosa bombardeia a casa dos brasileiros com falsas verdades. Não se tratou de uma guerra. Foi um massacre!!! Um verdadeiro genocídio! Numa guerra, exércitos disputam entre si! Esse não é o caso. Nesse episódio, foram tanques de guerra, bombardeios por ar, terra e mar por parte de Israel contra foguetes do Movimento de Resistência Islâmico, o Hamas, em defesa do povo palestino e do direito ao território e à vida. A capacidade de guerra de Israel é semelhante à usada pelos Estados Unidos das Américas (EUA) quando este atacou o Iraque.

Embora ambos os lados tenham decretado o cessar fogo, o crime de tensão e insegurança ainda permanece e permanecerá entre o povo palestino.

A mídia hegemônica também não apresenta ao povo brasileiro quais os reais motivos do conflito histórico, quem está por trás dele e quais os principais interesses envolvidos. Retomando um pouco na história poderemos compreender a atual situação na faixa de Gaza.

A Palestina(2) foi habitada desde os tempos pré-históricos mais remotos. Talvez por causa da sua situação geográfica – faz parte do corredor entre a África e a Ásia e ao mesmo tempo fica às portas da Europa – a Palestina nunca foi sede de um poder que se estendesse para além das suas fronteiras. Pelo contrário, esteve quase sempre submetida a poderes estrangeiros, sediados na África, na Ásia ou na Europa.

No final do II milênio A.C., a Palestina começou a receber imigrantes de várias regiões dentre eles judeus. Após muitos conflitos, então, passou a ser território do Império Romano, sendo os judeus foram resistentes a essa dominação. No entanto, após essa dominação, os judeus perderem força e foram fragmentados em vários grupos. Mas prevaleceu neles a vontade de que todo o seu povo construísse um Estado Judaico.

No século XIX, com o triunfo de ideologias nacionalistas surgiu entre os judeus laicos da Europa central e oriental um movimento nacionalista secular cujo objetivo era a criação de um estado dos judeus, sendo este considerado como o único meio de assegurar a identidade e a sobrevivência da nação judaica, assim como de lhe garantir um lugar ao sol entre as demais nações. Os nacionalistas judaicos não tardaram a optar pela Palestina. Essa escolha, embora não fosse necessária, era natural e particularmente mobilizadora, por causa da ligação do judaísmo à Palestina e da atração que ela exerce mesmo sobre muitos judeus que não são religiosos ou originários desse país. Esse movimento tomou o nome de sionismo, palavra que deriva de Sião, um dos nomes de Jerusalém na Bíblia. A opção pela Palestina se enquadrava nos projetos coloniais das potências européias, sobretudo da Grã-Bretanha e da França, que preparavam a partilha dos despojos do império otomano decadente. Foi sem dúvida por isso que o projeto sionista vingou.

Na I Guerra Mundial, a Grã-Bretanha, atual Inglaterra, tinha interesses pelas terras Palestinas e prometeu aos sionistas que obteria uma terra para formação do Estado Nacional Judaico. Através da Declaração Balfour, a Grã-Bretanha prometeu à Federação Sionista que faria todo o possível para o estabelecimento de "um lar nacional para o povo judaico". De fato isso aconteceu, quando as forças britânicas ocuparam as terras da Palestina e ficaram com a sua administração. As potências aliadas através do Pacto da Liga das Nações estabeleceram o sistema de mandatos para posteriormente distribuir as colônias para a formação de estados nacionais sobre a tutela das potencias mandatárias.

Na conferência de San Remo a 25 de Abril de 1920, o Conselho Supremo Aliado repartiu os Mandatos para essas nações entre a França (Líbano e Síria) e a Grã-Bretanha (Mesopotâmia, Palestina/Transjordânia). O Mandato para a Palestina, que incorpora a Declaração Balfour sobre o estabelecimento do "lar nacional para o povo judaico", foi aprovado pelo Conselho da Liga das Nações a 24 de Julho de 1922, tornando-se efetivo a 29 de Setembro do mesmo ano. Com o tempo todas as nações, exceto a Palestina, tornaram-se independentes.

Graças ao Mandato para a Palestina, o patrocínio do projeto sionista, que era um elemento da política britânica, tornou-se política oficial da Liga das Nações. Esta não só deu ao projeto sionista a caução internacional, mas forneceu-lhe também os meios para a sua realização. A Grã-Bretanha, a quem o Conselho Supremo Aliado (isto é, os vencedores da guerra) confiara o Mandato da Palestina, era sem dúvida alguma a potência mais indicada para implantar a política da Liga das Nações em relação a esse país. De fato, a administração britânica procurou cumprir fielmente enquanto pôde a missão que lhe fora confiada.

Rapidamente os sionistas aproveitaram a estrutura instalada naquele momento e o apoio britânico para trazer de volta os judeus. Os palestinos não se agradaram da idéia e inicialmente resistiam pacificamente, posteriormente começaram a surgir conflitos sangrentos não dirigidos apenas aos sionistas, mas também aos britânicos a quem exigiam um estado palestino. Realizando uma grande greve geral em 8 de maio de 1936.

Reconhecendo a dificuldade de os Palestinos desistirem da independência, os britânicos começaram a pensar na divisão do território, proposta que não agradou a nenhuma das partes. Percebendo a inviabilidade da sua proposta, a Grã-Bretanha propôs a formação de um único estado sionista e palestino, abandonando o suporte dado aos sionistas. Os Judeus trataram de reforçar a imigração do seu grupo para a Palestina e recorreram ao EUA para pedir ajuda. Vários ataques a tropas britânicas começaram a ser efetuados por grupos de guerrilhas e a Grã-Bretanha desistiu do mandato, repassando–o para a Organização das Nações Unidas (ONU).

A ONU retomou a proposta de divisão do território sendo que Jerusalém ficaria sob domínio da ONU. Os judeus ocuparam as aéreas destinadas a eles pela divisão e aos poucos foram avançando sobre outras áreas. Com a saída das últimas tropas britânicas, Israel proclamou a criação do Estado Judeu, eclodindo conflitos no território em disputa. Em 15 de maio de 1948, um dia após a saída das tropas britânicas a guerra se espalhou. Os palestinos juntamente com transjordanianas, egípcias e sírias, ajudadas por contingentes libaneses e iraquianos formaram a coligação árabe, no entanto as forças judaicas eram mais fortes e possuíam maior exército. Ao final da guerra Israel já ocupava 78 % da Palestina, ficando fora do estado judeu a cadeia de baixas montanhas do centro e do sul da Palestina, a chamada Cisjordânia, assim como a Faixa de Gaza. Jerusalém ficou dividida: a parte oeste da cidade extramuros ficou do lado de Israel; a cidade antiga e o bairro extramuros a norte ficaram do lado árabe. Israel declarou Jerusalém sua capital, contrariando a decisão da Assembléia Geral da ONU de 1947, que recomendava a internacionalização da cidade.

A maior parte da população palestina virou autóctone, refugiados e amedrontados com a violência de Israel. A ONU em dezembro de 1948 aprovou a resolução 194 que reconhece aos refugiados palestinos o direito de regressarem aos seus lares ou de serem indenizados, se assim o preferirem. Todavia Israel não aceitou, recusou-se e continua a recusar-se a aplicá-la. Acelerou o processo de extermínio e de destruição das terras dos refugiados palestinos, distribuindo as suas terras aos imigrantes judeus, Israel tornou impossível o regresso de uma boa parte dos refugiados aos seus lares. A esmagadora maioria dos refugiados amontoou-se em acampamentos na Faixa de Gaza, na Cisjordânia, na Jordânia, na Síria e no Líbano.

Em 5 de junho de 1967, Israel realizou uma guerra-relâmpago , “a guerra de seis dias”, durante a qual ocupou toda a Península do Sinai (egípcia) a Faixa de Gaza (sob administração militar egípcia) a Cisjordânia juntamente com Jerusalém Oriental (anexadas pela Jordânia em 1950) e o Planalto do Golã (sírio). Israel anexou a parte de Jerusalém recém-ocupada.

A chamada "Guerra dos Seis Dias" fez mais refugiados palestinos, da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, alguns dos quais o eram pela segunda vez. A maioria foi para a Jordânia. Os restantes foram para o Egito, a Síria e outros países.

Em 1967, o Conselho de segurança da ONU aprovou a resolução 242 que se propunha formular os termos para uma paz justa e duradoura no Próximo Oriente, baseada no respeito pelos princípios da Carta da ONU e na inadmissibilidade da aquisição de territórios pela guerra. A resolução ordena a retirada das forças armadas israelitas dos territórios ocupados no recente conflito em troca do reconhecimento pelos estados árabes do Estado de Israel dentro das linhas do armistício de 1949.

A situação mudou a partir de 1967. O povo palestino voltou a tomar em mãos o seu destino. Por mais que se tenha esforçado por negar a sua existência, Israel teve finalmente que reconhecer o povo palestino não só como povo, mas também como "interlocutor/inimigo" inevitável. Encarnou as aspirações nacionais palestinas a Organização de Libertação da Palestina (OLP) uma coligação de partidos ou grupos que havia sido criada em Jerusalém, em 1964. Tal como foi formulada em 1968, a Carta da OLP, na linha do que sempre fora a política palestina, propunha-se como objetivo a criação do Estado da Palestina em todo o território nacional. Isso implicava o desaparecimento do Estado de Israel. A carta da OLP considerava os judeus que viviam na Palestina antes da "invasão sionista" como palestinos com pleno direito à cidadania, como os demais habitantes: muçulmanos, cristãos e de outras religiões ou etnias.

Desde então, várias foram as tentativas de se gerar acordos de paz, no entanto, ambas das partes não aceitam acordos sendo cada vez mais sangrentos os conflitos.

Nos últimos anos, os EUA, sob argumento de que Israel precisa se defender do Hamas, ofereceu armas e anualmente a assistência de US$ 3 bilhões (três bilhões de dólares) para financiar a investida imperialista do Israel sobre países vizinhos, no controle de territórios, rotas de comércio de produtos em geral e do petróleo; como para distribuir os armamentos que aquele país produz e semelhantemente distribui para outros grupos e governos como, por exemplo, para o governo fascista da Colômbia, através do Plano Colômbia. Os EUA(3) foi responsável pelo financiamento e apoio à sucessão de golpes militares na América Latina, iniciada em 1954 na Guatemala, a invasão da Baia dos Porcos em Cuba (1961), a Guerra no Vietnan (1964-1973), o golpe militar na Indonésia (1965), a invasão de Granada (1983), o bombardeio da Síria (1986), a invasão no Panamá (1989), a ocupação do Haiti (1994), a guerra da Somália (1994), a Guerra do Golfo (1991), até as invasões mais recentes do Afeganistão (2001) e Iraque (2003) sendo esses alguns exemplos da intervenção bélica ianque pelo mundo. Sustentar esse conflito no oriente médio fez parte da política imperialista do governo Bush. Como se viu, os ataques foram retomados de forma brutal justamente no término do mandato do Governo. Ainda permanece a incógnita se o próximo Presidente dos EUA, Barack Obama, manterá a política militarista de Bush filho.

Para entender mais a relação dos EUA com Israel é preciso saber que nesse país existe uma forte influência de judeus sionistas que de lá estabelecem relações como governo de Israel, o trecho seguinte do Rabino Elmer Berger (Presidente do Conselho Mundial para o Judaísmo) expressa bem essa afirmação.

“A opinião pro-sionistas nos Estados Unidos e nos outros países é orientada e dirigida do exterior. As investigações sobre a estrutura sionista dos Estados Unidos, levadas a efeito pelo Comitê de Relações Exteriores do Senado americano, em 1963, deixou este fato estabelecido. A Agencia Judaica pro Israel, a Organização Sionista Mundial e os grupos sionistas locais, inclusive os da Inglaterra e da América, são todos, na realidade, de fato e de direito, uma e a mesma coisa; e todos eles são, juridicamente parte do próprio governo israelense. Os grandes Estados democráticos do Ocidente nada trarão de construtivo para a solução do problema da Palestina e falharão, portanto, na proteção do que lhes restar dos seus interesses no Oriente Médio e, muito menos, seguirão restaurar seu prestigio, até que seja posto fim a esta exploração da tolerância democrática pela propaganda sionista/israelense e com imparcial aplicação da lei. Naturalmente, para tomar as providencias necessárias à regularização das relações entre o Estado de Israel e os cidadão de origem judaica de quaisquer desses Estado democráticos, os governos e o povo terão de compreender e fazer uma distinção fundamental entre a legítima tradição espiritual do judaísmo e substancia exclusivista, discriminatória e anti-democrática do nacionalismo contemporâneo do Israel sionista". Rabino Elmer Berger (Presidente do Conselho Mundial para o Judaísmo).(4)

No mundo todo, as pessoas têm ficado mais resistentes a atos como esse e realizado uma série de mobilizações em solidariedade ao povo Palestino. Esse e outros motivos foram os responsáveis pelo cessar fogo iniciado no último domingo (18 de janeiro de 2009).

Laerte Braga, na sua análise “A “trégua” em Gaza – são os “negócios”, apresenta bem quais os motivos que estão nas entrelinhas do cessar fogo. Para ele três foram os fatores que influenciaram a trégua. O primeiro deles foi a forte reação da opinião pública dentro do próprio país, e a recusa de jovens sionistas que em entrarem no exercito como repudio às ações nazi/sionistas. O outro fator foi a preocupação com a imagem do país em todo o restante do mundo, em que ficou evidente que o interesse dos Israelenses é meramente econômica, enquanto o povo palestino tem o sonho de construir uma nação. O último é que o contribuinte ianque percebeu que é o financiador da barbárie na Palestina bem como da construção de todo Estado sionista. E em meio a crise econômica está perdendo as casas que são financiadas por bancos nazi/sionistas. Além disso, o vice presidente Dick Chaney, padrinho do nazi/sionismo ,deixará de “controlar as cordinhas que movimentam Bush” . Com a posse de Obama, tido como bom moço pela origem, a necessidade de tirar o país da crise , vai ficar também mais difícil continuar com o ataque.

Mesmo com o cessar fogo é preciso que continuemos expressando o nosso apoio ao povo palestino que ainda sofrerá por muito tempo com os impactos dessa ação terrorista. Assim estimulemos o boicote aos produtos israelenses. Exijamos dos governos sanções econômicas. Estimulemos atos em solidariedade ao povo palestino. Furemos o bloqueio da grande mídia, divulgando em listas de discussão e e-mails, rádios comunitários e jornais dos instrumentos políticos o histórico do conflito, as causas e interesses externos, as informações deformadas da grande mídia, a real situação de calamidade da região da Faixa de Gaza e as imagens estarrecedoras. E Exijamos do governo brasileiro medidas fortes de posicionamento contra Israel, como o corte de relações diplomáticas assim como fez a Venezuela e a Bolívia.

E tão importante quanto essas ações, olhemos com outros olhos para o Brasil para as crianças e adolescentes desrespeitados, para mulheres oprimidas e exploradas, para os que morrem de fome e de doenças, para os que morrem pela criminalização dos movimentos sociais quando exercem a legítima defesa de se expressar.

Continuemos nos perguntando: até quando?! Mas não nos calemos diante das injustiças! E muito menos continuemos parados!

(1)Dados extraídos de matérias do Jornal Brasil de Fato ( WWW.brasildefato.com.br).

(2)Informações obtidas no site: http://www.alfredo-braga.pro.br/discussoes/palestina.html.

(3) Informação obtida no texto “O último ano da ‘Era Bush’”, escrito Por Maria Luisa Mendonça, jornalista e coordenadora da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos.

(4) Trecho extraído da matéria “A trégua em Gaza- são os negócios”, disponível em http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/analise/a-201ctregua201d-em-gaza-2013-sao-os-201cnegocios201d.

Ângela Pereira* é integrante da Consulta Popular e Assembléia Popular na Paraíba.