ANÔNIMO GARÇOM

Há mais de trinta anos nos encontramos. O restaurante, um bar que vende comida metido à Galeto. Tem uma boa lareira, aliás, o seu nome. Na Tijuca de ontem ficava aberto até tarde. Portas abertas outrora entrava madrugada a fora, hoje, fecha antes de o dia acabar. Não é exceção no violento bairro, talvez um dos mais, na cidade que foi maravilhosa para se tomar um chopinho à noite.

Nos idos de setenta íamos ao Bunda. Esse era o apelido do Lareira, quando inaugurado por um espanhol, pai da atual proprietária, que montou um Galeto, daqueles com balcão e banquinhos. Acontece que os banquinhos ficavam junto à calçada. Os clientes entravam e ao sentar, para saborear os franguinhos, ficavam com a bunda de fora.

Ir ao Bunda era conversar com os amigos, escutar conselhos do reverendo, falar sobre projetos.

Curioso é que só trinta anos depois me dei conta de que o garçom que nos serve no Bunda é o mesmo este tempo todo.

Quantas vezes pedi um filé aberto ao anônimo, hoje senhor. Fritas portuguesas não podem deixar de acompanhar o suculento pedaço de mignon.

Ontem, enquanto o filé aberto era assado, entre um chope e outro conversei com ele. Relembramos um passado. Mostramos que nos vemos a mais de três décadas. Eu lembrei de pessoas amigas que por ali passaram e que hoje não mais lá irão. Ele contou como era o bairro quando saía do trabalho com o dia clareando.

Fui embora e ele continua anônimo para mim. Qual o seu nome?