GANHA PÃO

Aos brados expressava-se com muita raiva o catador de lixo. Um tipo daqueles que puxavam um carrinho, antigamente conhecido como burrinho sem rabo.

Havia um conflito. O dono da padaria, que acabara de acompanhar seus empregados a colocarem o lixo do dia na rua, em frente ao seu estabelecimento, rente ao meio fio, gritava com o catador que, compulsivamente, abria os sacos de lixo e espalhava-os pelo asfalto. Aos pouco, selecionando papéis, papelões, latas de alumínio e tudo mais que no lixo estava mas que valor possuía para o catador.

- Vou chamar a polícia! Você não pode fazer essa sujeira, gritava irado o dono da padaria.

O catador, sem parar de catar, colocava rapidamente sobre o seu carrinho o que fora separado e gritava para quem quisesse ouvir:

- Pode chamar! Pode chamar a polícia! Este é o meu ganha pão.

À meia distância via-se uma mulher baixa, feia, suja, de preto. Ao seu lado, um menino, pequeno, não mais de seis anos, olhos vivos, meio tímido, meio indignado. Os dois, mãe e filho, juntos ao prédio de apartamentos, vizinho à padaria, silenciosamente tudo olhavam.

E o catador, pai, insistia:

- Pode chamar a polícia! Este é o meu ganha pão. Se eu tivesse roubando você nada falaria. Você só faz isto por que é comerciante.

No lixo da padaria está o ganha pão do catador. Na padaria ele irá comprar o pão.