Detalhes que não se esquece

Aquele dia na boate, estava solteiro, tinha recém terminado o namoro de poucos meses. Ainda sentia aquela sensação inexplicável de não se entender longe da garota que gostava, era um carro sem rumo, acelerado pela pista de dança. Cada sorriso que aparecia chamava atenção, dava vontade de agarrar a primeira que aparecesse para compensar. Ou talvez para esquecer aqueles detalhes, e como tudo aconteceu tão depressa, sem dar chance para um acerto.

A cerveja era a amiga maldosa, dava conselhos loucos e não deixava as ideias fluírem naturalmente. A cerveja se entregava e se derretia, se exibia e dizia que iria melhorar tudo. Só o que ela conseguia era fazer o cara não pensar em sua ex. Mas cada dia importante tem aqueles detalhes que não se esquece. No escuro daquela boate, ela apareceu, um vestidinho tradicional e um sorriso amarelo ao ver o cara. Querendo parecer orgulhoso, ele nem olha para ela direito, embora queira abraçá-la como fizera há uma semana.

O orgulho ganhava, a cerveja continuava falando mais alto. Nem bola dera para aquela menina que costumava dizer que amava. O cara se atirou nos braços de outra, dirigiu de volta para casa brigando com a cerveja, que queria o ver em um precipício. Acordaria cedo no dia seguinte, para fazer o trivial. Só que a menina o procurou, com uma faca enorme entre os dentes, que usaria para quebrar o gelo. Ela falava de amor, e ele dizia que não acreditava. Teimosa, felizmente teimosa, ela insistiu – disse que tinha certeza do que sentia. O coração de pedra do cara parecia quebrar-se aos poucos.

Apesar de não desejar a continuidade daquela relação que começara conturbada, no seu íntimo ele sabia que a felicidade estava naqueles olhos. E aqueles olhos estavam a sua frente chorando, não poderia mais resistir. E o cara não se arrependeu porque aqueles detalhes todos faziam toda a diferença. E até mesmo hoje, quando alguma tempestade está próxima, ele para e tenta lembrar daquele olhar para evitar os trovões. Alguns raios caíram, todos no mesmo lugar, e nenhum foi forte o suficiente para matar aquele sentimento, que nenhuma nuvem encobria, pois o sol só brilhava para eles.