SOBRE AS CONTRADIÇÕES DA SENSIBILIDADE HUMANA

SOBRE AS CONTRADIÇÕES DA SENSIBILIDADE HUMANA

Marília L. Paixão

Zélia Freire comentou sobre meu texto: NADA NÃO, algo que diz respeito ao título desta crônica. De acordo com um amigo dela as pessoas se comovem com dramas em filmes mais que com dramas do cotidiano e ela ficou pensando nesta contradição da sensibilidade humana. Como eu também gosto de pensar, pensei logo numa explicação já que choro em certos filmes e até revejo mesmo sabendo que vou chorar de novo.

Quando ficamos sabendo que um casal se matou, mas antes disto a mãe conseguiu salvar o filho do mesmo fim, pensamos em como é grande o amor de mãe e em como as pessoas quando chegam ao fim do amor perdem completamente o equilíbrio nos deixando como lembrança as marcas de suas chagas.

Fazemos uma reflexão sobre a tragédia e tentamos tirar um aprendizado do ocorrido dando continuidade ás nossas vidas sem chorar. Vivenciamos a tragédia apenas em seu fim e muitas vezes pelo noticiário. Já nos filmes temos um contato com o personagem no decorrer do principio meio e fim. Este nos é apresentado e o acompanhamos na trama.

Nos envolvemos conscientes ou inconscientes na trama. Vamos escolhendo os personagens que nos chamam mais atenção e colhendo através deles tudo que nos toca. Vamos fazendo analises ou simplesmente observando as reações e movimentos, a fala, à dor, a angustia, os pensamentos e o tempo.

Com nossa maturidade vamos prevendo o futuro, a sorte, o azar, o sucesso do personagem seja em seu sonho ou em sua trajetória sem glórias. Já temos nos ombros o fardo da experiência que nos beneficia com mais coisas até do que as que nos foi apresentada pelas telas de cinema.

Por este mesmo motivo as notícias das tragédias que a mídia veicula com detalhes numa seqüência quase igual à de filmes nos chamam muito mais atenção que as apenas noticiadas com seus fatos e conseqüências. Como se fosse preciso ver com os próprios olhos, assistir a coisa acontecendo para nos sentirmos tocados por ela. Já num filme de ficção você já se prepara para o que o espera. Você escolhe a trama que deseja assistir e dependendo da escolha, leva logo um lencinho. Agora, eu?! Eu não! Eu seco é na mão mesmo!

O que nos toca mais ou menos é quase como a diferença entre ficar sabendo que algo aconteceu e literalmente ver a coisa acontecendo. Saber que houve um acidente na esquina de uma rua perigosa é comum, mas você presenciar a cena deixa de ser comum, pois neste caso quase poderia ter acontecido com você mesmo.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 28/01/2009
Reeditado em 28/01/2009
Código do texto: T1408919
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