Estamos, desde que nascemos (e no período seguinte, principalmente) olhando para tudo perto de nós, à nossa volta, um pouco distante, muito distante, sempre olhamos, ainda bem! Olhar é um mérito, ver é um dom.
Nas crianças, um dom de toda hora. Elas saem a passeio no parque, costumam ir a zoológicos, vão a um parque de diversões, amam ir a circos, adoram festinhas de aniversários.
Mas, pode perguntar: - o que você viu lá?
E em seguida, lá vem uma avalanche de palavras animadas, descritivas e bem detalhadas: - você precisava ver, o olho do urso brilha muito! As árvores são muito verdes, mas de verde diferente; gosto do carrossel, ele é muito colorido, as orelhas dos cavalos são vermelhas e as cadeirinhas dos carrinhos! Ah! São de todas as cores; mãe, me leva de novo no circo? Gosto de ver tanto menino junto, alegre, batendo palmas, as mãos parecem uma porção de pombos voando... E os palhaços, eles são muito alegres, mas têm uma cara triste, você viu, pai?
Aniversário? Ôba! Adoro o marrom e o gosto do brigadeiro! E por aí vai...
 
E os adultos, vêem? Parece-me que não. Olhamos, mas olhamos rápido, “passamos a vista” apenas. E como os pais saberão o que se passa com o filho, se o olham depressa demais? Olhar depressa não dá para ver. Por que os casais não se vêem, um não sabe à noite, a cor da roupa que outro usou durante o dia e aí... acabam sem saber coisa nenhuma. Olhar e ver... Mas olhar com olhos delicados, olhar calmamente, olhar nos olhos, ver sua cor, sua tristeza escondida, a preocupação, a ansiedade. Olhar o olhar do amigo carinhosamente, com ternura, sem pressa, e, com este olhar ver o que o outro diz.
 
(Olhar apressadamente não é próprio de quem ama.
Um olhar atento para o extrato bancário, um olhar indiferente para um amigo)
...
 
Parte da crônica, de Yara Cilyn
 
 
IMAGEM: Muro da casa da mamãe, por Léo Souza