Visita esmagadora

De vez em quando, chove. E é normalmente neste dia que a tristeza vem me visitar. Como num diálogo ao ritmo dos pingos, conversamos sobre a vida. Ela, sempre muito séria, é de poucas palavras. Geralmente fica em silêncio. Às vezes, para quebar o gelo, olha a televisão e comenta sobre alguma coisa que está passando. A luz normalmente é baixa, pois ela não gosta muito de ambientes claros. De vez em quando, faz frio e é sempre a melhor opção para ela. Ela comenta que, de onde vem, não há muito o que fazer, a não ser olhar a chuva cair e esperar um dia melhor. Que nunca vem. Não gosto muito quando ela vem me visitar. Geralmente ela não quer ir embora. Desconfio que ela goste de mim... Eu também gosto dela! Às vezes, é bom apreciar a chuva. Mas me consome... Me deprime... Sinto falta de vontade e acabo pensando que pode ser sua presença esmagadora. Que gruda. Infinca. Corrói. Muitas vezes, peço que se retire, mas ela é bem dominadora. Mais forte que eu. Gosto de andar com pessoas parecidas comigo, passivas. Às vezes, choramos juntas - ela é solidária. Diz que chorar a fortalece. A água escorre e ficamos prestando atenção no barulho. E então a sonolência vem. Peço que se retire, sinto-me cansada... Mas a tristeza gosta mesmo de mim e pede para ficar. Então deitamos juntas, como normalmente fazemos. E, quando acordo, ela já está esperando por mim. Para mais um dia de chuva.

Milena Verri
Enviado por Milena Verri em 04/02/2009
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