Crendices

Ir visitá-la na semana santa? É claro, irei adorar, minha madrinha! Estou mesmo necessitando relaxar um pouco; e nada melhor do que ficar a ver os meninos brincando nas águas mansas do riacho; ouvir os pássaros numa manhã de sol; degustar dos quitutes de minha madrinha... Hum! Os gritos das águas descendo pelas encostas das pedras... Êpa! Mas e quanto a essa estória de virar lobisomem, na sexta-feira santa, se a pessoa banhar nas águas do riacho? São mesmo verdadeiras aquelas conversas de que quem fala alto, grita , dança ou briga nessa data, atrai maus-espíritos?

Minha madrinha é pequena e seus olhinhos quando me veem refletem o brilho das estrelas; tem aquele cheiro de doces, de cocadas caseiras, de café coado na hora; adora me agradar com uma tapioca lambuzada de coco ralado... Sempre a vejo na cozinha entre as panelas: cloc-cloc-cloc! Mas nunca está só- há um menino que a ajuda em seus chás e rezas (Ela é benzedeira das boas!) e pega suas ervas no quintal de casa...

Não há uma pessoa na vila que não tenha bebido desses remédios caseiros: erva cidreira, capim santo, folha da amendoeira, boldo e por aí vai... Sempre que me empanturro (Essa é uma expressão dela!) de bolos nos dias santos e vem aquela fininha (Outra das dela!) ela faz um chazinho com as folhas novas da goiabeira e não é que dar resultado? Ela é uma mulher que acredita no que faz e nos leva a crer também!

Outro dia ela me disse que preciso banhar com sal grosso... Mas minha madrinha, marido não se acha assim! E não é coisa de santo Antônio? Ora, menina! Tu tá é com mau-olhado! Um bom banho com sal grosso só deve te ajudar! (Acho que farei isso nesta semana santa!)

Que gosto dela ninguém duvida... E quando a conhecerem irão se apaixonar! Ela é daquelas criaturas que vai logo convidando para um cafezinho, sorriso largo, abraço terno! Na tardes de verão, fica ali pela porteira, admirando seu pé de pião-roxo... E pensando nas sovas que já aconselhara os homens da região a se darem para espantar os descaminhos da vida...

Por fim, acho que vou receitar a um amigo que estou cantando há dias um chazinho de jasmim e que ele procure no Google as suas utilidades medicinais...

Fico-me aqui pensando em uma casa, varanda aberta ao nascente, e um milho assado na brasa... E as flores desabrochando... (Ah! Tem um pé de orquídeas no jardim da madrinha!) Acho que quando amar irei degustar um pouquinho de sua raiz... Mas tem de ser das pequenas, afinal... Adoro uma menina de cachinhos ou tranças ao sabor do vento... (A raiz grande é para fazer o chá masculino! Resultado: menino!)