Nostalgia

Nostalgia

Lembro dos meus tempos de Criança, subia em árvores, robava frutas, jogava bola, corria descalça, andava de bicicleta e achava que devia ser legal ser triste, pois todas as vezes que os adultos conversavam, o foco das conversas sempre eram sobre as “crianças tristes”. Eu só não entendia que quando mencionavam as “crianças tristes”, na verdade eles estavam falando das crianças arteiras e sempre diziam – Mariazinha é triste – e eu bem que tentava ser triste da forma como eu havia aprendido a ser triste, aos meus cinco anos. Eu sentava-me no chão da varanda e ficava abraçando os meus próprios joelhos por longos tempos até vir um ou mais adultos tentar me tirar da minha reclusão, tudo por que eu queria que eles falassem mais de mim. Querendo ser “triste”, tudo o que eu conseguia era ser esquesita!

Quando eu era adolescente eu me tornei triste e não gostava da tristeza que sentia, mas achava que aquilo tudo dava mais significado à vida. Eu questionava as pessoas, os acontecimentos, os sentimentos, a vida, a morte, a Deus e ao diabo. Tudo era dúvida e coloquei na minha cabeça que o meu deus era a morte. Eu queria morrer, mas não podia me matar, pois a morte cobrava vida e se ela viesse, me perguntaria o que eu havia vivido e se não houvesse vida ela não me levaria em seus braços e nem daria-me o seu doce beijo, então vivi minha tristeza procurando viver intensamente para que a morte viesse me buscar mais rápido.

Hoje sou adulta, ou dizem que sou. Lembro da minha infância e como gostava de brincar e de fingir que era triste, lembro da minha adolencência e como gostava de escrever sobre a minha paixão pela morte que me cobrava a vida. Tudo era muito intenso. Passei pelas duas fases e uma me ensinou a viver a outra. Sou fã de Peter Pan, Pequeno Principe, acredito em Deus e sou adepta do “Carpe Diem”, mas não subo em árvores, não quero ser triste e nem amo a morte, mas sempre que posso piso descalça na grama, me permito sentir uma pontada de tristeza e respeito a morte, mas tudo o que quero e tenho chama-se VIDA.

Patricia Cardoso
Enviado por Patricia Cardoso em 05/02/2009
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