TRAVOU, BLOQUEOU E ENGOLIU!

Como sempre faço no início de cada mês, nesta segunda feira passada não foi diferente: dirigi-me à uma agência bancária da cidade e, pacientemente, esperei, na fila, a minha vez de enviar, para minha filha, os recursos necessários para mais um mês na capital da Paraíba.

Como precisava passar pela porta giratória, resolvi arriscar, sem tirar o celular do bolso. Quem sabe – pensei – se desta vez a porta não trava! Travou. Voltei, depositei o celular e a chave do carro. Tentei a segunda investida. Travou de novo. Lembrei-me do dispositivo do alarme do carro. Depositei-o, também, na caixinha ao lado. O guarda me olhava, fazendo a sua investigação e o seu prognóstico sobre o personagem. Voltei à dita cuja e, mais uma vez – a terceira –, ela travou. Bati nos bolsos, tentei me lembrar se tinha moedas, outras chaves, qualquer coisa, mas não tinha. Aliás, tinha. Tinha uma bolsa a tiracolo cheia de apostilas e livros, um gravador e dois pendrives - seguro morreu de velho!

O guarda, então, se fez presente. Pediu que eu abrisse a bolsa. Abri-la. Ele a olhou e me pediu que eu a entregasse pela abertura entre a roleta e o vidro. Com apenas um dedo ele a segurou e a fez girar até o seu lado. Eu continuei do lado de fora. Ele, como todo bom profissional, olhou com cuidado o interior da bolsa e, só depois disso, liberou a porta para eu passar. Deu-me vontade de dizer que não seria preciso ele fazer isso, pois eu já não tinha mais nada que pudesse fazer a trava eletrônica ser acionada. Mas, para evitar uma má interpretação, fiquei calado. Entrei. Melhor: atravessei a agência e saí, no instante seguinte, pelo outro lado – já que eu só precisava mesmo era ir aos caixas eletrônicos.

Entrei na fila de depósitos e saques. Como é de praxe, sempre dou uma olhada ao redor, observo o recorte da realidade onde estou inserido e passo, independente de estar com um livro ou um jornal, a me utilizar de técnicas próprias para passar o tempo. Melhor, não ter que me irritar com a demora e os problemas que, normalmente, o “sistema” (próprio de qualquer agência para creditar a lentidão nas filas e a falta de manutenção nos caixas eletrônicos) ocasiona todos os santos dias.

Para começar, eu passo a observar os atendentes – todos jovens estagiários, sem experiência nenhuma com o trato ao público diversificado – que em sua maioria não sabem como lidar com a tecnologia de “ponta” – e necessitam, constantemente, da ajuda e orientação dos mesmos – e percebo, em alguns, a impaciência por estarem lidando com pessoas que os incomodam puxando-os pelos braços, falando pertinho dos seus rostos.

Mas, em nenhum momento, essas pessoas que estão ali justamente para auxiliarem e orientarem, e com isso dinamizar as filas, fazendo-as fluir, observam a necessidade, o respeito e a confiança que essas pessoas simples depositam neles para fazerem, por eles, um saque e com isso retirarem suas aposentadorias.

Deixei para lá. Passei a observar a minha fila. Na minha frente, um homem aparentando uns trinta anos. No momento em que ele virou-se e falou que só dois dos caixas estavam funcionando, eu fui obrigado a “tomar uma”, tamanho foi o “bafo” que o dito cujo deixou sair ao pronunciar a frase. Evitei puxar conversa. Uma só “lapada” já tinha sido o suficiente.

Quando chegou a vez do mesmo e ele colocou o cartão na abertura correspondente, o sistema travou, bloqueou e, para completar, “engoliu” o tal passaporte de retirada de dinheiro. Ele se “arrepiou”. Gritou pelo atendente. Depois de um pequeno espaço de tempo, o jovem estagiário o atendeu. Ele explicou que o cartão tinha ficado “preso e engolido”. O moço disse que o motivo tinha sido ele tê-lo colocado ao contrário, mas que não tinha problemas, era só ele ir pegá-lo lá dentro - indicou o setor e a pessoa. O homem argumentou que o cartão era de sua esposa. O atendente disse que, nesse caso, somente ela poderia vir pegá-lo com o encarregado pela supervisão dos caixas eletrônicos. O homem baixou a cabeça e disse, em forma de confissão:

- Bem feito! Por que eu fui tirar o cartão da bolsa da minha mulher?! Dessa vez eu apanho!

Confesso que ri. Ele olhou para mim e, surpreendentemente, também passou a rir. Perguntei-lhe se era primeira vez que ele fazia isso. Nada, disse ele. Eu já estava acostumado. Toda vida que ficava doido para tomar uma, eu me valia do cartão. Dessa vez a casa caiu.

Olhei para o cidadão e fiquei imaginando a cena que estava se desenhando entre ele e a sua cônjuge. Desejei-lhe boa sorte. Ele aceitou e, rindo de nervosismo, se foi.

Enfim, minha vez chegou. Por via das dúvidas, eu olhei qual o nome no cartão que eu ia utilizar para fazer a transferência de numerário. Vai que eu tivesse me enganado...


Obs. Imagem da internet



Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 08/02/2009
Reeditado em 05/12/2011
Código do texto: T1428112
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.