Mexendo nos vulcões

Três amigas juntas num almoço, depois de uma roda de leitura de textos literários. O que sairia nas conversas? Talvez entre três amigos fosse obvio deduzir, a previsibilidade faz parte o espírito masculino. Mas, conversa entre três mulheres amantes da poesia e que ainda por cima passaram a manhã se angustiado com os contos Passeio noturno I e II de Rubens Fonseca, não há espaço para previsibilidade. Nunca se sabe o que virá, a única certeza é que, no mínimo, a alma humana será e as questões do feminino serão exploradas minuciosamente com a lente de um microscópio capaz de ver o invisível.

Que venha a entrada! Essa não poderia deixar de ser degustada sem a intromissão de Rubens Fonseca, afinal de contas, foi ele a causa da nossa inquietação naquela manhã. Venho também, em pensamento uníssono, o lamento de todas: “Nem um poema, um pequeno poema para acalmar nossas almas”. É, faltou o poema no círculo de leitura daquele dia. Essa nossa saudade da leitura e discussão de poemas é porque só eles conseguem de uma certa forma nos apaziguar. Por mais que ele fale de coisas difíceis, duras ou cruéis nos faz flutuar, com direito a todas as significações que esta palavra pode trazer. É um flutuar em agitação interna, é prazeroso. Não sei se pelo ritmo ou pela forma, não adianta explicar, é sentido.

Mas, terminada a entrada chegou a hora da salada. A essa altura a alma humana já estava sendo dessecada por três mulheres vorazes. E foi nesse entremeio que veio a tona uma frase dita por uma das minhas amigas: “Em construção interna. Meu vulcão querendo acordar”. Que vulcão é esse que não dá sossego? Foi ele que nos acompanhou no prato principal. Cada uma tinha uma opinião para dar sobre esse vulcão que habita o interior feminino. Algumas vezes ele está adormecido, outras, age silenciosamente ou ruidosamente explode, derrama lavas, incendeia. Mulheres com vulcões que precisam eclodir. Não sabemos ao certo como, quando nem onde ele pode eclodir, mas ele tem que eclodir. Maravilhoso é quando esse vulcão eclode na arte, vira presente para os simples mortais.

Cada mulher tem uma forma de lidar com esse vulcão. Umas o deixam agir irrestritamente, destrutivamente outras preferem deixá-lo quietinho, acesso, mas quietinho, sem incomodar. Ainda há aquelas que pensam que podem abafá-lo. Insistem em impedir que o vulcão não aja, por mais q ele esteja em plena atividade. Falsa impressão achar que isso é possível, o vulcão está aí e vai agir de uma forma ou de outra. Vulcões femininos fazendo jorrar uma energia que mexe com o universo. Há muitos vulcões para acordarem e eclodirem em sensibilidade e enigmas belíssimos, disso eu tenho certeza.

No fim ficamos de acertar um dia para degustarmos um vinho, lermos poemas e falarmos de arte. Penso no que poderá sair dessa conversa.

Silvia Pina
Enviado por Silvia Pina em 10/02/2009
Código do texto: T1432629
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