O policial e o engraxate

Em uma cidade qualquer do Brasil, numa quarta-feira, o policial militar João Carlos sai cedo para mais um dia de trabalho. João Carlos é um profissional altamente dedicado ao exercício de sua profissão, seu pai e seu avô também foram policiais, inclusive receberam distinções pelo bom serviço prestado. João procurava a cada dia desempenhar da melhor forma possível seu trabalho, e assim dar um bom exemplo a seu filho, que não queria seguir a mesma carreira do pai. O filho de João tem apenas 9 anos de idade, na quinta-feira ele completa 10, e seu pai já preocupou-se em comprar algo no dia de hoje para dar amanhã a seu menino. Aproximadamente às 8h30min João notou que seus calçados estavam sujos, havia saído apressado de casa, pensando no que iria dar de presente ao filho. Foi então que João notou um menino, que devia ter uns 14 ou 15 anos trabalhando como engraxate perto de uma praça de táxi. O policial foi ao encontro do menino, que tímido, recolhia seus objetos de trabalho com medo de alguma represália. Houve uma rápida conversa entre os dois. João soube que o menino trabalhava no turno inverso ao da escola para ajudar ao pai que estava doente. João se emocionou com o menino e perguntou quanto custava para engraxar seus coturnos. O menino respondeu que faria um preço especial ao policial. Terminado o serviço do menino João continuou sua ronda. Próximo ao meio dia, João entrou em uma pequena lanchonete, onde mais uma vez encontrou o jovem engraxate, comprando um lanche para levar ao seu pai, um pouco triste, pois seu dinheiro só deu para o remédio de seu pai e um pequeno pedaço de pão. João inteirou-se sobre o assunto e deu o único dinheiro que tinha, o pouco que havia guardado para dar a seu filho, para o esforçado engraxate, dizendo que seria seu cliente dali em diante. O menino não cabia em si de tamanha alegria. Neste momento, um homem entra aos gritos na lanchonete, empunhando um revólver e anunciando o assalto. João, afastando-se do menino, posicionou-se próximo ao assaltante encostando sua arma na nuca do marginal e dando-lhe voz de prisão. Foi então que outro bandido apareceu, segurando o engraxate e mandando João soltar a arma ou mataria o ‘amigo’ dele. O bandido que entrara gritando saiu do estabelecimento correndo, deixando seu cúmplice sozinho usando o menino como escudo. Neste momento um cliente da loja acertou uma pancada por trás no bandido, fazendo-o soltar o engraxate, que correu até João. O policial atirou-se à frente do engraxate no momento em que viu que o bandido atiraria. João atirou também acertando o bandido em uma perna, este caiu ao chão, sendo imobilizado por um cliente da lanchonete. João notou sangue em seu uniforme, o jovem engraxate estava aterrorizado, saiu correndo pedindo por ajuda e acompanhou o policial até o hospital.

João acabou falecendo no hospital, e o menino engraxate foi quem contou a história para a sua esposa. O menino devolveu o dinheiro à viúva e foi embora dali. Mais tarde, a mulher de João viu um bilhete junto ao dinheiro, "O policial me deu este dinheiro para eu me alimentar, dizendo que eu morreria de fome. Estou devolvendo porque o policial João me deu muito mais que dinheiro hoje, ele me deu um futuro".