LENDAS URBANAS

“Yo no creo em brujas, pero que las hay, las hay.” (Cervantes)

Não sei se é bom ou mau para a formação da personalidade, caráter ou é só o medo às vezes necessário à preservação da vida essa história de fantasmas e outros assombros que acompanham o homem desde a mais remota caverna. Mas é fato. E tem muitos que tremem só de ouvir falar em lençóis brancos, vozes graves ou ventania.

Dia desses, Clara e Amanda, filha e sobrinha, brincavam de procurar na internet relatos sobre lendas urbanas. Acompanhei várias leituras que ambas dividiam em tom de suspense à Hitchcock. Cheguei a sugerir que procurassem o caso da loura do Bonfim, fantasia que corre solta aqui em Belo Horizonte. Lembrei, claro, do passado quando reuniam-se meninadas para contar casos fantasmagóricos ou à beira de um fogão à lenha, os mais velhos contando casos de assombrações , almas penadas, seres do além que vinham assustar vivos, puxar as pernas à noite.

Tutu, bicho papão, homem do saco, tudo isso já povoou a minha imaginação e dava um medão danado quando um adulto conseguia fazer aquietar de alguma bagunça somente com uma ameaça assombrosa dessas. Há tempos morei em uma casa na cidade de Itabira, cuja parede de meu quarto era o mesmo muro de um cemitério. Talvez tenha sido o lugar mais tranqüilo em que residi até hoje. Além dos mortos não produzirem nenhum ruído, quem passava próximo também o fazia em silencio, por respeito ou por medo, não importa. Era o silencio absoluto e a calma em boa companhia.

Fim de ano (2006) estava eu parado em um ponto de ônibus no centro da cidade em frente a uma loja de artigos religiosos, umbandísticos e outros produtos sincréticos para rezas e mandingas. A dona do estabelecimento (devendo me achar com cara de tolo ou acabado) se aproximou e disse que eu estava com um encosto. Só curaria se ela fizesse um trabalho de “limpeza de caminhos.” Senão eu não iria nem poder ver os fogos da virada de ano. Era coisa grave, meu semblante estaria muito carregado e minha energia fraca. Custavam quatrocentas pratas minha salvação, que eu poderia pagar de duas vezes para comprovar que a coisa era séria. Daria a entrada e voltaria lá no dia 02 de janeiro, vivinho e salvo para quitar o feitiço. Se tivesse pagado teria faltado para as despesas com o revellion, que foi maravilhoso, em família.

O espanto maior vem dos vivos e está aqui bem à nossa frente, através da televisão, jornal, radio, na rua, enfim, gente de carne e osso é que mais assombra. Seja por uso de violência física para obter algo ou pelo uso da violência que chamamos pelos eufemismos de ilusão, enganação, alquimia, discursos, promessas e propagandas.

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 13/02/2009
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