Rezas funcionam?



     Diz o ditado popular que "Dinheiro, carinho e reza ninguém despreza". Bom, dinheiro sempre o ganhei bem suado e bem curto, de modo que, se me dessem, ele jamais seria desprezado; carinho, sempre me deram bem pouquinho, razão por que, quando me dão, não desprezo nem um pedacinho. Quanto a rezas, aí é que a "porca torce o rabo", porque sempre cético e agnóstico de carteirinha, e não acreditando nelas, já as recebi de montão. 
     Principalmente da minha saudosa mãe que, coitada, dizia ter ficado de beiço fino de tanto rezar por seu destrambelhado filho, nordestino de sangue quente, louco por mulher e por "água que passarinho não bebe".
     Minha mãe, heróica viúva que criou seis filhos sozinha, sem emprego, sem pensão e sem ajuda de parentes, tinha muito crédito com o Grande Homem e por isso parece que as suas rezas funcionaram, ainda que pela metade.
     Bom, o caso é que deixei de ser louco apenas por "água que passarinho não bebe" , mas, se para isso, a minha pobre mãe ficou de beiço fino de tanto rezar, com certeza terá sido porque passou muito tempo rezando.
     Ipso facto, como a gente dizia no tempo em que o Direito tinha o direito de usar o Latim, cabe a dúvida: as rezas funcionaram, ou, afinal, depois de tanto tempo, tampei a garrafa porque tomei vergonha na cara?
    E cabe ainda outra dúvida: não terá a minha santa mãe, bem conhecendo o "carga-torta" que era o seu filho, rezado muito, exatamente para eu tomar vergonha na cara?
     
Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 13/02/2009
Reeditado em 13/02/2009
Código do texto: T1436697
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.