O VELHO FOGÃO DE LENHA!

 
Essas tardes de domingo, perdidas em meio à ociosidade, em que nada de interessante temos a fazer, proporcionam-me velhas e boas recordações, do tempo em que tudo tinha outro sabor, as alegrias se multiplicavam, mesmo nessas tardes chuvosas e escuras.
 
Recordo-me da cozinha de minha casa – as paredes já com pintura gasta – a voz de minha mãe, dizendo:
 
- Ah... Betico! Quando é que você vai dar uma arrumada nessa tapera? Meu Deus! Casa de ferreiro, espeto de pau!
 
Meu pai era pedreiro, mestre de obras e nunca tinha tempo para reformar sua própria casa. Faltava-lhe um pouco de vontade. Homem tranqüilo, demasiadamente calmo em determinadas situações, enrolava seu cigarrinho de palha e nem piscava!
 
Minha mãe, nessas tardes de domingo, costumava reunir seus três filhos mais jovens – meu irmão, mais velho do que eu, minha irmã e o caçula, ambos mais jovens. Chamava-nos à cozinha, a lenha crepitando no velho fogão de barro, esquentando o forno, a mesa grande de madeira no centro, preparava, cuidadosamente, os ingredientes em uma bacia de alumínio para amassar aqueles pães de queijo que faziam a nossa alegria. No fogão, a água na chaleira, já preparando um café perfumado e quente! Ainda hoje eu sinto aquele cheiro do café de mamãe.
 
Meus irmãos e eu, sentados no rabo do fogão – enorme – para que coubessem todos os filhos naqueles dias muito frios! Os dias quentes que normalmente nos assolavam durante quase todo o ano, contrapunham-se aqueles que se assemelhavam ao frio do deserto. Nos aquecíamos no rabo do fogão de barro.
 
- Betico! O café está pronto, meu velho. Venha tomar um cafezinho e comer uns pãezinhos de queijo quentinhos, venha!
 
Meu pai, na sala, ouvindo seu radinho de pilhas, fazia um carinho em minha mãe, tomava uma xícara de café, e voltava à sala, já enrolando outro cigarrinho de palha.
 
- Hi! Minha velha... Ficou muito bom! Depois eu como o pão de queijo, viu? Agora vou pitar!
 
Eu adorava a maneira com eles se tratavam – “meu velho” e “minha velha”. Tempos depois, fazendo as contas, percebi que de velhos eles não tinham nada. Minha mãe faleceu aos 51 anos de idade e meu pai era dois anos mais jovem. Essa era apenas uma forma carinhosa de se chamarem, demonstrando o grande amor que sentiam um pelo outro.
 
E lá íamos nós para a grande mesa de madeira rústica ao lado daquela bacia enorme repleta de pães de queijo quentinho e saboroso, acompanhados do café com leite que ela preparava. O fogo continuava crepitando no velho fogão de lenha. Era de barro, mas minha mãe o limpava como se fora de aço inoxidável.
E ele brilhava, como tal, eu juro!