BONS TEMPOS DE MAGISTÉRIO

Esta crônica é lida, em São Paulo, pela enfermeira Valéria Dellamano Frozé, que está concluindo mais um curso de mestrado, para compor o seu invejável currículo. Também estão entre os meus leitores a senhora Laura Neuber e a filha Suzana que relembra, com muita saudade, os seus tempos de normalista, no final dos anos sessenta, no Instituto de Educação. O mencionado curso era a aspiração de muitas jovens que se empenhavam muito para se tornarem professoras, uma profissão respeitada, ainda relativamente bem remunerada e valorizada pela sociedade. Afinal, elas seriam as responsáveis pela educação das futuras gerações.

Naqueles idos, as moças estudavam no período da tarde, até por volta das quatro e meia quando, em grupos de amigas, enfeitavam as ruas da cidade com o tradicional uniforme composto por uma blusa branca e saia de cor cinza claro, com muitas pregas, sapatos pretos e meias brancas, que lhes conferia um ar bastante sensual. Era a hora do flerte e da paquera. Afinal, os usos e costumes já estavam começando a mudar. A chamada “jovem guarda” havia introduzido várias expressões, como “é uma brasa, mora” e “legal”, entre outras. É evidente que aquela roupa, já um pouco moderna, contrastando com alguns costumes ainda severos, não as livravam do vento impiedoso do mês de agosto que, no centro, sempre as surpreendia desprevenidas, fazendo a alegria da moçada e dos idosos também.

Tempos bons aqueles. Não faz muito tempo, conversei com a Suzana, em uma festa familiar. Meio tímida a princípio, relembrou que uma de suas colegas de turma foi minha namorada, naquela época, há quarenta anos. Ela e seu grupo costumavam passar defronte ao meu local de trabalho, em uma empresa concessionária de serviços públicos. Quando era possível, eu arranjava uma desculpa para um dedinho de prosa. O Moacyr Zago e o Toninho Ruiz Martinez, meus chefes, não gostavam muito. Mas toleravam. Afinal, naquela época, havia um grande respeito entre todos, principalmente para com os chefes. Portanto, eventuais problemas eram contornados. Por isso mesmo, trabalhei quase seis anos com esses e outros notáveis e inesquecíveis colegas.

Mas, voltemos às normalistas. Estudavam muito ao longo de três anos para, depois, tentar uma vaga no ensino público, através de severos concursos. Acompanhei a trajetória de várias, principalmente as carreiras de minha irmã, Ana Maria e sua grande amiga, Janete Nassar. Quando elas deixaram os bancos escolares, em meados dos anos sessenta, conseguiram lecionar na zona rural com muito sacrifício. Com outras companheiras, alugaram uma perua Kombi – era assim mesmo! As professoras pagavam as conduções para transportá-las – e foram encarar, respectivamente, os alunos das fazendas Saltinho e Tucumã, com frio, calor, poeira ou barro. Aliás, todas as normalistas tiveram um início bastante difícil. Construíram a carreira com muito trabalho.

Atualmente, ser professor não é fácil. Tenho lido e acompanhado a epopéia de alguns mestres que permanecem na ativa. O respeito há muito deixou a sala de aula. Mas ainda existem bons alunos que enxergam na educação e no saber, as perspectivas de futuro. Mas, uma grande maioria não pensa assim. Que pena!

Dos meus tempos de bancos escolares, algumas mestras ainda estão entre nós: Elza Abranches Loureiro, minha leitora habitual, Geny Gomes D`Amico, Maria Celeste Bastos Eleutério, Ásia Mendes Eleutério, Lindiria Toscano. Elas também foram normalistas, um dia. Tenho certeza que guardam, lá no fundo, as muitas recordações dos “bons tempos de magistério...”