Quando o poeta se lê

Quando o poeta se lê descobre que não quer ser super homem, não quer ser limitado por nenhum tipo de perfeição. Cada defeito, em cada letra, é o que o constrói. É o que o faz querer continuar.

Poesia não nasceu pra ser perfeita. Tal qual uma pintura que o pintor veja e... “Óh, caramba, faltou ali um passarinho”. Belo motivo pra fazer um quadro só com ninhos.

É que quando o poeta se lê recobre a si mesmo com o que veio de si. Seja alegria, seja tristeza, está tudo ali diante daquelas retinas. Umas mais fatigadas que as outras.

Quem é o poeta? Ele pode escrever em prosa e ter a poesia na alma. Ele pode escrever em verso e passar a vida proseando. Poetar é verbo, é carne, é o poder que todos nós temos de alcançar as nuvens. E, ao mesmo tempo, nos faz engatinhar como crianças pra dentro de nosso próprio interior.

E quando o poeta se lê, ele também vê ao redor. Vê muito. Vê quantos poetas há por perto, ou longe. Mas a geografia não entra nessa. Corações de poeta se atraem. Vocês têm dúvida?

De uma palavra escrita pode surgir um sorriso. Um sorriso que já se viu, já se sentiu em outros. E não me digam que sorriso não é poesia. Risadas? Sonetos puros. Com direito a verso alexandrino.

O choro então? Dali pode vir um hino. Hinos são poesia. Se cantados com a mão no peito nem se fala. Verdadeiras odes gregas. Ou troianas.

Na poesia até a guerra pode apaziguar.

Mas e a rima, e a métrica? Não, não é isso que faz um poema. Alexandrinos, haicais, versos brancos, o que importa é o sentimento. O olhar descomplicado.

O poeta escreve porque precisa se ler. Precisa beber do vinho que seus próprios pés pisaram. E não há nada como uma leitura bem direta que o diga: Tá lendo, né? Olha aí, você é isso!

Ana Helena Tavares
Enviado por Ana Helena Tavares em 16/02/2009
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