Pipa

Os meninos tinham que ganhar algum dinheiro honesto para comprar as pipas vendidas na rua Santa Rita . Naquela época o governo era militar e não dava tanta assistência social. Ao invés de reclamar, o jeito era usar a criatividade e trabalhar, e o capital inicial era um pedaço de pano.

Com a “flanela”. Os meninos ficavam na esquina da rua José Amador, onde ficava o bar do Zé Dias, com a Primeiro de Maio , à espera do " cliente " despontar após a subida do viaduto que corta a Via Dutra. De longe, já avistavam os brilhos dos sapatos bico fino dos romeiros que subiam o ponto turístico religioso, morro do cruzeiro.

Os meninos eram honestos e tinham que ser rápidos, pois os mal famados vendedores de “quadrinhos”* da época, não gostavam da presença de outros, pois achavam que a área eram somente deles.

“ E ali alguns meninos mudaram de lado...”

Subitamente, defronte ao bar do "Seu Dito Vená", postavam-se quase que ajoelhados a limparem os sapatos dos romeiros . Alguns até se assustavam; outros atendiam aos apelos dos meninos . "Ô senhor, dê uma gorjeta aí!".

“Sempre quando subo aquela rua em direção ao morro, e olho a esquerda, vem em minha memória os sons de vozes acompanhadas do estridente barulho das engrenagens do tempo, da maquina, do caldo de cama, da doce saudade, do embalar nossa imaginação juvenil”. Mas de moeda em moeda juntavam o necessário para tomar um caldo de cana, as vezes comer um bolinho de fubá e depois comprar a pipa e a linha corrente numero 10.

Hoje essa tática não funciona mais.

O tempo passou.

O verde caldo de cana com seus átomos vão aos poucos se transformando em diesel Californiano. O bolinho de fubá perdeu seu espaço para o caloroso X-Salada

E a pipa? Ah meu Amigo! Vejo que essa continua sobrevoando o céu de Aparecida, as terras do Senhor Bom Jesus, as serras da Mantiqueira e para muito alem do que os olhos possam ver...E sem volta.

Sorrindo e finalmente Livre da linha corrente!

Reinaldo Cabral
Enviado por Reinaldo Cabral em 17/02/2009
Código do texto: T1444106