Uma felicidade

Felicidade é algo muito pessoal. Cada indivíduo, a sente de forma diferente, encontra-a em coisas diferentes.

Há muito me exercito no sentido de valorizar a simplicidade. Encontro momentos únicos, nas situações mais corriqueiras.

Ao começar a abrir minha casa, pela manhã, via através das frestas da porta veneziana da sala, o cachorrinho espiando, de olho nos meus pés, esperando que eu abrisse. Entrava, dava a patinha, gemia esperando o carinho, fazia um pouco de dengo, depois, ia em direção ao móvel onde guardo meus biscoitos. Depois que recebia seu quinhão, saia e comia lá fora, no caminho de pedras que leva para os fundos da casa.

Hoje, ao chegar diante da porta, ele não estava lá. Ontem ele se foi para outra dimensão. Em uma de suas escapadas costumeiras, encontrou algum cão inimigo que esfacelou sua caixa torácica.

A par da imensa tristeza que sua morte nos causa, temos inúmeras lembranças alegres da convivência de sete anos. Era afetuoso, alegre. Seu latido era irritante, mas não me importaria de continuar a ouvi-lo, quando estranhos estivessem perambulando pela rua.

Malandro, ficava “de samambaia”, quando abríamos o portão. Aparecia do nada e, se não fôssemos rápidos, lá se ia ele, dar seu passeio.

Logo retornava, língua de fora, deitava feito esfinge, aguardando que abríssemos para ele entrar. Nunca foi maltratado por ninguém de casa, sempre retribuiu com carinho, ao nosso.

Como essas, há muitas coisas para relembrar, não só da convivência com nosso cãozinho, mas de tantas pessoas que passaram pela nossa vida.

Felicidade é viver com intensidade, momentos. Curtir amizades, abraçar aos que amamos, sejam pessoas, ou animais de estimação.

Sendo um sentimento, não deve ser atrelada a coisas, objetos, pois nada disso irá nos acompanhar. Não faz parte da bagagem para a viagem final.

Lamento a perda do meu companheirinho de todos os dias, praticamente 24 horas por dia. Guardo na lembrança o olhar amoroso que me lançou de dentro do bauzinho da veterinária, antes de seguir para a cirurgia, como que dizendo: “Eu sabia que vocês não me deixariam morrer na rua”. Esse olhar me consolou. Sua passagem pela nossa vida, nos trouxe felicidade. (18/02/2009)