Depois do portão branco.

Fico triste quando vejo que a realidade lá fora é ruim. Lá fora dos meus portões Aqui ao meu alcance tudo posso fazer para melhorar. Mas e ali depois do meu portão branco? O que posso eu fazer?

Não é triste quando sabemos que uma garota finge uma gravidez e até mesmo a perda destes bebes de maneira trágica e violenta? Ela está pedindo auxilio olhem para mim. Têm tantas e tantas formas de pedir ajuda. Mas por vezes a gente grita e ninguém ouve.

Imaginem uma menina de nove anos sendo obrigada a casar com um “rapaz” com mais de cinqüenta anos. Deu para imaginar? Pra mim não dá não! Tenho um filho de nove anos. Uma criança, cheia de sonhos, de fantasias...

A cultura lá pode ser diferente, mas o terror que ela deve ter sentido não pode ser diferente do que os nossos filhos nesta idade sentiriam em se encontrar em tal situação. È uma loucura, uma doideira muitos diriam. A mãe tentou interceder junto às autoridades para impedir este ato insano (que deve ser apenas mais um por lá). Mas o juiz disse que a menina poderia pedir o divórcio quando chegasse adolescência. Pedir o divórcio na adolescência!

Depois de quantos anos esta menina vai conseguir chegar à adolescência? Se é que um dia vai passar por esta fase de seu desenvolvimento. Pode uma criança depois de ser atropelada moralmente e sexualmente chegar “viva” a uma adolescência? Mesmo separada do seu algoz? A adolescência já é uma fase complicada pra todos que nela passam, e apesar da distância e da cultura, adolescente é adolescente em qualquer lugar. Não é a posição geográfica que muda uma dor. Vai pedir o divórcio depois do quê? Quando não sobrar mais nada de uma infância? Uma criança esfarrapada em sua dignidade. Destruída em seus castelos.

Duas meninas foram encontradas em cárcere privado, uma de treze e uma de quinze anos na casa de um borracheiro em Porto Alegre. Nuas as duas, trancadas há uma semana no quarto deste “cidadão normal”. Segundo elas, estavam trabalhando em uma boate quando foram convidadas a ir até a casa do borracheiro prestar favores em troca de alimentação e dinheiro. Treze e quinze anos! Foram vítimas das circunstancias. Uma coisa leva a outra. Uma degradação leva a outra. É um circulo vicioso tão fácil de entrar e tão difícil de deixar.

Minha alma se confrange, se rebela e grita impotente.

Minha volta ao Recanto depois de tanto tempo... É cedo por aqui, os pássaros cantam, meu jardim cheira a chuva e terra. Já alimentei meus cachorros e meu adorado Bartolomeu. Espero meu filho querido de nove anos levantar cheio de preguicinha para abraça-lo e oferecer um pãozinho...

O dia mal começa e vou fazer tudo o que puder hoje para trazer o mais perfeito arco-íris para dentro de meus domínios, para dentro do meu portão branco!