O que virá depois?

Eu já escrevi algo sobre o medo da morte, mas nada muito sério, o texto referia-se a uma figura pitoresca do interior de Pernambuco: seu Afrânio.Ele desejava que o mundo ficasse cada vez pior, isso o faria perder a vontade de viver, e por conseguinte, o medo da morte. Seu Afrânio era uma caboclo maluco, misturava uma revolta brutal, que deve ter sido motivada pelas misérias que ele presenciou, com a paixão por uma vida que sonhou vivê-la, e não viveu. Não deixava claro o que seria realmente o melhor, satisfazer o seu egoísmo ou alcançar um grau de felicidade que poderia deixá-lo de bem com a vida, e concluir que valeu a pena ter passado por este complicado planeta terra.

Entrando, em um universo diferente, vamos encontrar o ex- presidente francês François Mitterand. Na idade avançada, com a brevidade da morte, Mitterand buscava a imortalidade, uma imortalidade histórica. Faltou-me uma guerra- disse ele.Achava-se injustiçado pelo destino,que, segundo ele, fora mais benevolente com os seus famosos antecessores, Charles de Gaulle, e Georges Pompidou, estes já estão presente na vida daquele país : França.Essas duas personalidades são um referencial, de luta , de glória, e Mitterand desejava o mesmo, ficar na historia, ser lembrado, diariamente, servir de exemplo às gerações futuras, como um ser especial, acima das outras criaturas; alguém que foi o responsável por mudanças significativas na política, na economia, na cultura , enfim, em cada situação que o seu povo pudesse identificar como o grande líder que ele sempre pretendeu sê-lo. E essa dúvida- ficar ou não para a posteridade- era a angústia daquele homem que possuía outros talentos, a literatura, como exemplo, que poderia colocar o seu nome nas memórias sobreviventes. Mas apostou na política. Aliás, ele dizia, que a política é muito parecida com a literatura, o escritor, como o político é alguém que faz uma aposta no futuro. E ele ficou tão obcecado pela ideia da posteridade, ser imortalizado, que ia periodicamente aos túmulos de celebridades - Vincent Van Golg era umas delas- , e ficava horas contemplando o local onde estão os restos mortais daquele artista que em vida fora miseravelmente pobre, mas a morte o transformou em um dos nomes mais lembrado da história humana. Quem sabe descobrir o segredo de se tornar imortal. E Mitterand também especulava o que viria depois da morte, no plano espiritual, um ateu que perguntava a si mesmo, - o que virá depois? -Haverá vida além disso aqui? Como sabemos , Mitterand está morto, e evidentemente, não sabemos ainda se ele ficou na história ou não, é muito cedo, nem se sobreviveu espiritualmente.Nós que ficamos , em um mundo, não sei se pior ou melhor do que o dos nossos antepassados, muitos dizem ser pior, estamos buscando resposta àquelas velhas indagações , principalmente aquela pergunta que mexia tanto com aquele homem que comandou por um longo tempo esse país fascinante do velho continente; e assim, o que virá depois?

Soleno Rodrigues
Enviado por Soleno Rodrigues em 20/02/2009
Reeditado em 19/02/2017
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