SEXO COM HORA MARCADA
Casados há quatro anos decidimos então ficar grávidos. Mas, sabíamos que nossa decisão iria necessariamente ter de passar por alguns tratamentos, pois para a medicina mulher acima de 35 anos já é gravidez de risco e minha mulher estava com 42 anos.
Começamos então pelo mais básico, levar a decisão ao ginecologista e saber o que poderia fazer por nós neste caso. Com uma honestidade de perfurar a alma ele nos trouxe didaticamente, passo-a-passo, o risco de uma gravidez nesta idade, entretanto, não nos deixou sem esperança aos nos apresentar muitos casos semelhantes e positivos em sua própria clínica.
Ouvimos atentamente cada explicação, cada detalhe e nos intervalos de uma fala e outra nos olhávamos com dúvidas e incertezas.
A decisão, porém, estava tomada e avistávamos sucesso em nossa empreitada, mesmo com os riscos inerentes explicado pelo médico.
Então a primeira das soluções encontradas para que nosso intento tivesse sucesso seria um tratamento de fertilização. Fomos encaminhados para uma reunião onde passaríamos por uma explicação teórica de tudo e depois começaríamos os exames necessários.
Feito os exames e escolhido o melhor tratamento para o nosso caso, decidiram um induzimento de ovulação, antes de qualquer outro procedimento, pois como minha esposa tinha ficado grávida e perdido com três meses num aborto natural, essa era a melhor escolha naquele momento.
O induzimento, no entanto, trazia embutido algo fundamental para que o tratamento obtivesse êxito, sexo com hora marcada.
De todo o tratamento, injeções, espermograma, etc e tal este era o que de pior poderia existir.
Sexo com hora marcada é algo mais do que devastador, mecânico, sem sentido que se possa existir.
Se um dia viesse a brochar, isso não me afetaria, pois é algo que todos um dia pode estar sujeito, por vários motivos, e não seria algo assim que poderia me afetar de alguma maneira.
Mas o que estava em jogo naquele momento era a decisão suprema de sermos pais, de trazer ao mundo o fruto de nosso imenso amor, sem arestas.
Logo, ao determinar que teríamos que fazer sexo, duas vezes umas 10 e outra às 12h, me vi em desespero, já que nunca marcamos nossos encontros, nem hora e nem lugar.
Chegado o dia, minha esposa vai até a farmácia tomar a bendita injeção e volta disposta. Encontra-me no sofá, meio nervoso, longe e preocupado. Senta ao meu lado e segura em minha mão, me diz que faltam dez minutos. Aquele aviso foi como a minha sentença de morte, mas tentei disfarçar para não deixá-la também apreensiva.
Ela vem pra meu lado, me beija calorosamente, com o mesmo amor de sempre, a mesma paixão e furor de sempre, mas na hora H não consigo, falho e penso que quem ama de verdade hora marcada não existe.