O Tapete

Era um sonho realizado. Entrei naquela loja onde só os ricos ¨podiam¨ comprar. Olhei deslumbrada para as mercadorias expostas. Um vendedor se aproximou, fiz cara de quem ¨tinha posse¨, e apontei para aquele tapete de marca famosa,e que aos domingos num programa de auditório era feito a propaganda de sua ¨beleza, durabilidade, etc e tal¨.

O tapete escolhido devia medir uns três metros de comprimento por dois e meio de largura. Era um mundéu de tapete. Uma fortuna! O vendedor tentou apresentar outros de menor valor, mas eu estava decidida por aquele. Perguntou a forma de pagamento; disse que era no crediário. Ele tirou a nota, indicou-me o setor e fui pra lá já com o coração apertado. E se não aceitarem meu contra-cheque? Que vergonha meu Deus!

Fui chamada, e apertando a bolsa para ocultar o nervosismo, sentei na cadeira indicada. A moça pediu-me os documentos: RG, CPF, comprovantes de residência e de renda. Tinha-os já prontos. Aquele comprovante de renda era o primeiro que eu tinha! Sabe o que é você poder entrar numa loja e poder comprar sem temer receber um não, ou pior, olhar e não poder comprar? Eu vivia tudo aquilo em questão de segundos.

Aprovado meu cadastro. Sai dali sentindo uma alegria indescritível. Estava com dezoito anos, e com meu próprio salário acabara de comprar um presente para minha mãe! Um não, dois. Também comprei um conjunto completo de porcelana daquelas bem fininhas! Seis pratos fundos, seis rasos, seis de sobremesa, seis pires,seis xícaras, três travessas de tamanhos diversos e uma sopeira. Um luxo!

Cheguei em casa parecendo um sapo cururu. Inchada de tanto orgulho. Aguardamos a chegada das mercadorias que seriam entregues dentro de vinte e quatro horas. Se demorasse mais, eu explodiria.

Quando no dia seguinte cheguei do trabalho, estavam lá. Minha mãe toda derretida. Meu pai, nem se fala. Minhas manas eram pura alegria.

_Vamos, mãe, é para usar, viu?

_Não, vou guardar pra quando a casa estiver pronta!

Primeira desilusão. Quando é que essa casa ficaria pronta? Enrolaram o tapete, guardaram num lugar bem alto. O aparelho de jantar fora guardado para usar ¨quando chegasse visita¨!

Resultado: O rato fez ninho dentro do tapete, roeu o lindo tapete. Nós nunnnnncaaaaa usufrímos do tapete, e no final, foi parar no lixo! E o aparelho de porcelana? Minha mãe achava-se indigna de usar algo tão fino, e no dia do meu casamento devolveu-me o presente. Um presente que lhe dei com tanto esforço e orgulho por ter conseguido comprar com o meu primeiro salário.

Ione Sak
Enviado por Ione Sak em 27/02/2009
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