UM SURTO DE MELANCOLIA
Eu tenho umas lembranças recorrentes, que me fazem viajar pelo tempo, indo e voltando ao passado — mais recente ou mais remoto — como se fosse um velho filme sendo exibido para o meu olhar extasiado.
Algumas são coloridas e outras, em preto e branco. Mas todas elas, mesmo as que já se encontram meio apagadas pela distância, são lembranças importantes para mim.
Referências que fazem com que a própria vida se tenha justificado. E sem as quais, a minha existência não teria nenhum sentido...
Eu me lembro de coisas que marcaram a minha história pessoal e que ajudaram a definir o meu jeito de ser, a minha personalidade. De fatos que me sensibilizaram e que ainda me emocionam, quando penso neles, distribuídos pelas diferentes fases da minha vida.
Do meu tempo de criança e da minha adolescência, em que, com meus pais e meus irmãos, formávamos um bloco só. Lembro também dos amigos que perdi e de outros que ganhei, pelo meio do caminho. Dos melhores anos do meu tempo de casado e da emoção indescritível que senti ao olhar, pela primeira vez, para cada um dos meus filhos... E de tudo, eu sinto saudades.
Sinto saudades de muitas coisas: de pessoas que amei e de outras, que ainda amo. De momentos que vivi, de palavras que escutei e de algumas que eu deixei de dizer, quando deveria...
Mas se algum dia, além desta vida, alguém me perguntasse:
— Do que é que você sente mais saudades, nesse tempo que passou?
Eu não hesitaria em responder:
— Das longas conversas que tive com a minha mãe. De uma época, na minha vida, em que eu podia carregar os meus filhos no colo. E de um tempo, quando nós éramos apenas seis, em que eu me sentava junto aos meus pais e meus irmãos, achando aquilo a coisa mais corriqueira do mundo.
Mas, ao final de todas estas lembranças, eu me dou conta de que isso tudo é apenas um surto de melancolia. E que, apesar dele, a vida seguirá o seu inexorável caminho...