O ÓCIO DAS TEORIAS IV
Esta semana eu tive uma grata surpresa ao chegar à Universidade: dei de cara com o glorioso autor de inúmeras teorias, contadas, aqui, sob o título de o “Ócio das Teorias”.
Como sempre faço, quando o vejo, cumprimento-o com alegria. Gosto da minha relação com o distinto pesquisador e de como ele encontra sempre uma maneira de economizar o seu rico dinheirinho, multiplicá-lo, e de levar vantagem em tudo que faz.
- Como vai, Rodolfo? Aliás, nem precisa responder: vejo que está muito bem - disse-lhe de uma forma educada, ao mesmo tempo em que o deixava a vontade para, se quisesse, começar a desfilar alguma teoria nova ou, quem sabe, me contar algo sobre alguma coisa onde ele tivesse levado vantagem.
- Tudo bem.
Resposta lacônica. Isso me perturbou, confesso. Esperava uns quinze minutos de uma verve inflamada. Bem, deve ser a falta de contato, de um saber notícias do outro, pensei.
Quando ia lhe perguntar sobre se estava acontecendo algo, se havia uma rusga entre nós que eu não estava sabendo, o digníssimo “Nonô Correia” disparou:
- Descobri uma maneira de ganhar dinheiro e, ainda por cima, beber e comer sem gastar uma prata!
Era para eu me assombrar. Mas eu, conhecedor das peripécias do controvertido criador de artimanhas poupadoras, preferi chamá-lo para um banco e, confortavelmente instalados, pedi-lhe para contar-me essa descoberta.
- Fácil e simples, professor. Lembra da barraca que nós montamos na festa de Santa Luzia? Aquela cuja finalidade era o de arrecadar fundos para a colação de grau? Pois bem, nós conseguimos um bom dinheiro e eu, ainda por cima, ganhei dobrado.
- Claro que lembro, respondi-lhe. Inclusive, continuei, estive lá lhes prestigiando, colaborando para com os fundos. Mas, como é que você – se todos eram iguais perante o empreendimento – conseguiu ganhar dobrado?
O digníssimo teorista, rindo feito um acertador da Mega-sena, passando a perna sobre a outra e fazendo pose de investidor da bolsa de Nova Iorque, confidenciou:
- Em primeiro lugar, eu aluguei o meu telão, juntamente com o equipamento de vídeo e som para a própria barraca. Com isso eu levava, por noite, 25% do total arrecadado. E com uma vantagem: eu não atendia as mesas, pois ficava cuidando de atender aos pedidos para os clipes.
Fiquei espantado. Era impressionante como o futuro publicitário tinha o faro afiado para os negócios. E só para instigá-lo a dizer mais alguma coisa, eu lembrei-lhe que, na noite em que estava visitando a barraca, percebi que ele estava acompanhado da namorada.
Perguntei-lhe, então, como ele fazia para tomar um refrigerante com ela e os amigos.
- Está me estranhando, professor! Não me conhece não! Estratégia! Aprenda como se faz: como eu estava no comando do som, eu a deixei na mesa com alguns colegas. Agora eu lhe pergunto: qual o amigo que não oferece uma bebida para uma moça? (Deu-me vontade de dizer, mas preferi ficar calado) Aí eu ficava olhando, quando a bebida chegava, eu dava um pulinho lá, conversava um pouco, tomava dois ou três goles, dava um cheiro nela e voltava para o meu lugar. Mas sempre de olho na mesa. Da mesma forma, quando chegava o tira-gosto. No final eu comia, bebia e não gastava nada.
Realmente, raciocinei, uma peça das mais raras. Era como se a mente dele só funcionasse para arrecadar, arrecadar, arrecadar. Um Tio Patinhas contemporâneo.
- Ah, professor. Também descobri como ir a um rodízio de pizza e só pagar por uma fatia. Inclusive, já fiz o teste e foi aprovado. Também é simples: eu saio com um amigo e a namorada dele. Eu e a minha namorada. Na pizzaria, eu peço uma fatia de pizza, a minha namorada também (E ela é doida de pedir mais que isso?- Eu pensei.). O meu amigo pede um rodízio e a namorada dele também. Aí quando os garçons passam, eles dois aceitam todas as fatias que têm direito. Depois eles dividem com a gente. Viu como é simples? No final, eu só pago uma fatia e como até encher o “bucho”.
Paga duas, Rodolfo: a sua e a de sua namorada, consertei-o.
- Já vi que não me conhece mesmo! Só pago a minha. Ela, quando sai comigo, leva dinheiro, portanto, ela paga a dela.
Depois dessa, eu olhei no mostrador do relógio e vi que estava na hora. Antes de sair, eu o convidei para o lançamento do meu livro – mesmo sabendo que seria jogo duro tirar-lhe o valor do alfarrábio na noite de lançamento. Para minha surpresa, ouvi a seguinte resposta:
- Valeu! Obrigado pelo convite. Vou sim.
Despedimos-nos. Quando eu já estava quase entrando na sala, ele me chamou:
- Aí, que tal se, no lançamento do livro, você contratar meu equipamento para “incrementar” ainda mais a noite?
Não tinha jeito. Ele já tinha visualizado uma chance de ganhar dinheiro à minha custa, por isso ter aceitado o convite de uma forma tão rápida.
Bom, estou pensando se vale a pena; afinal, amigo é pra essas coisas...
Esta semana eu tive uma grata surpresa ao chegar à Universidade: dei de cara com o glorioso autor de inúmeras teorias, contadas, aqui, sob o título de o “Ócio das Teorias”.
Como sempre faço, quando o vejo, cumprimento-o com alegria. Gosto da minha relação com o distinto pesquisador e de como ele encontra sempre uma maneira de economizar o seu rico dinheirinho, multiplicá-lo, e de levar vantagem em tudo que faz.
- Como vai, Rodolfo? Aliás, nem precisa responder: vejo que está muito bem - disse-lhe de uma forma educada, ao mesmo tempo em que o deixava a vontade para, se quisesse, começar a desfilar alguma teoria nova ou, quem sabe, me contar algo sobre alguma coisa onde ele tivesse levado vantagem.
- Tudo bem.
Resposta lacônica. Isso me perturbou, confesso. Esperava uns quinze minutos de uma verve inflamada. Bem, deve ser a falta de contato, de um saber notícias do outro, pensei.
Quando ia lhe perguntar sobre se estava acontecendo algo, se havia uma rusga entre nós que eu não estava sabendo, o digníssimo “Nonô Correia” disparou:
- Descobri uma maneira de ganhar dinheiro e, ainda por cima, beber e comer sem gastar uma prata!
Era para eu me assombrar. Mas eu, conhecedor das peripécias do controvertido criador de artimanhas poupadoras, preferi chamá-lo para um banco e, confortavelmente instalados, pedi-lhe para contar-me essa descoberta.
- Fácil e simples, professor. Lembra da barraca que nós montamos na festa de Santa Luzia? Aquela cuja finalidade era o de arrecadar fundos para a colação de grau? Pois bem, nós conseguimos um bom dinheiro e eu, ainda por cima, ganhei dobrado.
- Claro que lembro, respondi-lhe. Inclusive, continuei, estive lá lhes prestigiando, colaborando para com os fundos. Mas, como é que você – se todos eram iguais perante o empreendimento – conseguiu ganhar dobrado?
O digníssimo teorista, rindo feito um acertador da Mega-sena, passando a perna sobre a outra e fazendo pose de investidor da bolsa de Nova Iorque, confidenciou:
- Em primeiro lugar, eu aluguei o meu telão, juntamente com o equipamento de vídeo e som para a própria barraca. Com isso eu levava, por noite, 25% do total arrecadado. E com uma vantagem: eu não atendia as mesas, pois ficava cuidando de atender aos pedidos para os clipes.
Fiquei espantado. Era impressionante como o futuro publicitário tinha o faro afiado para os negócios. E só para instigá-lo a dizer mais alguma coisa, eu lembrei-lhe que, na noite em que estava visitando a barraca, percebi que ele estava acompanhado da namorada.
Perguntei-lhe, então, como ele fazia para tomar um refrigerante com ela e os amigos.
- Está me estranhando, professor! Não me conhece não! Estratégia! Aprenda como se faz: como eu estava no comando do som, eu a deixei na mesa com alguns colegas. Agora eu lhe pergunto: qual o amigo que não oferece uma bebida para uma moça? (Deu-me vontade de dizer, mas preferi ficar calado) Aí eu ficava olhando, quando a bebida chegava, eu dava um pulinho lá, conversava um pouco, tomava dois ou três goles, dava um cheiro nela e voltava para o meu lugar. Mas sempre de olho na mesa. Da mesma forma, quando chegava o tira-gosto. No final eu comia, bebia e não gastava nada.
Realmente, raciocinei, uma peça das mais raras. Era como se a mente dele só funcionasse para arrecadar, arrecadar, arrecadar. Um Tio Patinhas contemporâneo.
- Ah, professor. Também descobri como ir a um rodízio de pizza e só pagar por uma fatia. Inclusive, já fiz o teste e foi aprovado. Também é simples: eu saio com um amigo e a namorada dele. Eu e a minha namorada. Na pizzaria, eu peço uma fatia de pizza, a minha namorada também (E ela é doida de pedir mais que isso?- Eu pensei.). O meu amigo pede um rodízio e a namorada dele também. Aí quando os garçons passam, eles dois aceitam todas as fatias que têm direito. Depois eles dividem com a gente. Viu como é simples? No final, eu só pago uma fatia e como até encher o “bucho”.
Paga duas, Rodolfo: a sua e a de sua namorada, consertei-o.
- Já vi que não me conhece mesmo! Só pago a minha. Ela, quando sai comigo, leva dinheiro, portanto, ela paga a dela.
Depois dessa, eu olhei no mostrador do relógio e vi que estava na hora. Antes de sair, eu o convidei para o lançamento do meu livro – mesmo sabendo que seria jogo duro tirar-lhe o valor do alfarrábio na noite de lançamento. Para minha surpresa, ouvi a seguinte resposta:
- Valeu! Obrigado pelo convite. Vou sim.
Despedimos-nos. Quando eu já estava quase entrando na sala, ele me chamou:
- Aí, que tal se, no lançamento do livro, você contratar meu equipamento para “incrementar” ainda mais a noite?
Não tinha jeito. Ele já tinha visualizado uma chance de ganhar dinheiro à minha custa, por isso ter aceitado o convite de uma forma tão rápida.
Bom, estou pensando se vale a pena; afinal, amigo é pra essas coisas...
Obs. Imagem da internet