MÚSICA...

Indiscutivelmente atribuo à música uma das mais gloriosas dádivas, se não a maior, capaz de alterar sentimentos e mexer com os sentidos daquele que a escuta tem a capacidade de transformar indiferença em saudade, tristeza em alegria, ou, vice-versa e, através da dança, sexualiza as coisas e socializa os indivíduos. Ao ultrapassar o tímpano a música parece fazer contato direto com a alma. É uma coisa divina! e fazê-la com qualidade é uma arte.

Música sempre esteve muito presente na minha vida, relaciono muitas coisas a ela e considero que tive uma infância com muito ritmo. E Vários discos são a trilha sonora das diversas fases alegres e das poucas tristes que percorri nessas duas décadas de vida.

Posso dizer que a década em que nasci foi protagonista de um cenário musical incrível e também fora historicamente decisiva. A década que ficou marcada pela queda do Muro de Berlim, também marcou a construção de um outro tipo de muro, só que agora seria um "Muro Ideológico" que conseguiu separar um número muito maior de pessoas e dividiu-as severamente em “classes” e devido a um certo avanço da tecnologia e um consumismo desesperado a onda de paz e amor presente na década antecessora tornou-se coisa de hiponga sujo e ultrapassado.

Sting, vocalista do The Police, percebeu essa mudança e em 1982 lançou Spirits in the Material World, como a primeira faixa do albúm Ghost in The Machine. Uma levada ska, um refrão chiclete e uma letra breve, esses foram os ingredientes necessários para formar uma das minhas músicas favoritas que passou o recado de uma Nova Era que chegava. A letra era a seguinte:

"Não há solução política - Para nossa problemática evolução - Não há fé na Constituição -Não há revolução sangrenta -Somos espíritos no mundo material -Somos espíritos no mundo material -Somos espíritos no mundo material -Somos espíritos no mundo material "

É meu irmão ...pois na década de 80 haviam duas leis:"consuma e faça sucesso" e "olho por olho - dente por dente". E cada um defendia-se da maneira possível, cada qual com seu atari e com uma uma tática diferente.

Ainda bem que tivemos uma grata surpresa no início de 1980, o que ajudou a digerir tudo isso, era uma banda chamada: AC/DC. Os caras já faziam sucesso no cenário europeu, porém, só depois do rock simples, poderoso e exorcizador presente no albúm Back in Black é que fizeram a cabeça de uma multidão em todo o mundo, salvando-a da loucura pré anunciado na embalagem de cereal e salvando o heavy metal da caricatura enrabada na qual se encontrava.

Talvez pelo corriqueiro fato do seu vocalista principal ter morrido afogado no próprio vômito após um porre de whiski, pouco antes do lançamento de Back in Black, o AC/DC, agora sem o falecido Bon Scott, ganhou status de ícone do rock. E com toda razão, porque os caras são foda, e a capa do Back in Black é clássica, simples, preta e nada mais!

E parecia mesmo que tudo tendia ao caos e à loucura nos anos 80, não só através da adorável perturbação do AC/DC, mas há vários outros testemunhos musicais desse meu ponto de vista.

Closer (1980) do Joy Division anunciou que sempre haverá uma saída e proclamou a auto destruição como uma alternativa em último caso. Nessa altura do campeonato um forte odor de apelo depressivo que adoro já pairava no ar através do excelente Crocodiles dos ingleses do Echo And The Bunnymen onde podíamos encontrar o último resquício do inconformismo de Jim Morrison presente no vocal de Ian McCulloch.

Ao mesmo tempo éramos embalados por um riff simples e envolvente de baixo na música A Forest do The Cure, que nos conduzia para dentro da escuridão, correndo para o nada em uma floresta vazia como a letra da canção dizia...

E assim formou-se uma nova tendência entre os jovens da época, tornando modismo, não só o estilo gótico, mas principalmente a idéia de querer transformar em arte a melancolia, e de transformar a melancolia em algo prazeroso de sentir-se.

Muitos acham que isso foi uma tremenda viadagem. Mas eu penso que esse movimento surgiu devido ao marrasmo e à falta de um ideal. Os jovens precisavam de uma grande guerra, como ocorreu em décadas anteriores, para que tivessem uma causa para morrer.

E o Cure reafirmou esse estilo nos 43 fenomenais minutos de Pornography (1982). Imortalizando-se em camisetas, bandanas e butttons da mulecada de olhar tristonho e chapado que frequentemente encontro na galeria do rock em SP nos dias de hoje.

Conselho amigo "ouçam Hanging Garden", última faixa, do disco Pornography e saberão do que se trata.

1981 foi o ano de espera entre um albúm e outro do The Cure e durante essa fria espera Mask do Bauhaus mostrou o que é ser gótico por excelência através de uma sonzeira lugúbre e tetânica.

Após esse aperitivo musical, onde todas as bandas são da Inglaterra, exceto os caras do The Police, pude comprovar a minha tese de que os ingleses não são nada festivos e até então não estavam a fim de um "sonzinho alegre para balançar a jaca."

Pois até bandas mais suaves como Pretenders (1980) e Soft Cell (1981), ambas da terra da rainha, tinham um quê de desespero e inconformismo. Enquanto na primeira havia o veneno adocicado da vocalista em letras sobre ódio e lúxuria, na segunda o duo inglês proporcionou uma trilha sonora de strip-tease para ninguém botar defeito com altas doses de melancolia e sedução presente no albúm Non Stop Erotic Cabaret, Tainted Love é uma prova disso que vos falo.

Mui bom...por sinal.

Mas o terreno ainda não estava totalmente preparado. Foram necessários mais alguns anos jogando atari, assistindo à Metals Heroes como Ultraman e Jaspion ou alienando-se com enlatados gringos a la Magaiver, até que em 1985 o fenomenal Meat Is Murder do The Smiths foi lançado para reforçar a sensação de juventude perdida e de anti-autoritarismo fracassado.

E que atire a primeira pedra aquele que nunca ficou embriagado ouvindo o som desses caras"!

Pouco tempo depois o The Smiths lançou The Queen is dead (1986), e acredite...esse albúm tem um poder incrível de nos tornar um pouquinho tristes, se acaso estivermos felizes, ou um pouquinho felizes, se acaso estivermos tristes. Principalmente a música: There is a Light That never goes Out.

É após esse relato está comprovadíssimo: os ingleses são meio dow mesmo...coitadinhos!

Por isso se você estiver à procura de música dos anos 80 para divertir a grande massa chame os americanos!

Eu chamaria o Quincy Jones. Esse é o cara!

Simplesmente responsável pela produção de Thriller (1982) - o disco mais vendido da história.

Sempre ouço esse disco, juntamente com Bad (1987), com extremo carinho e alegria porque ambos fizeram parte da minha infância como nenhum outro albúm.

Recordo-me perfeitamente as tardes de 1989, deveria ter uns 06 anos de idade na época, e assistia aos programas de TV onde quando não era o Michael Jackson dançando Beat It na telinha era algum cover tentando reproduzir a correografia do Thriller, duas músicas de 1982.

Mas a minha música favorita desse genial e extravagante artista é a performática Smooth Criminal, presente no albúm Bad. Mas a faixa título também foi um pilar histórico para as pistas de dança, além de ser o recado claro dos americanos ao mundo que assistia extasiado as apresentações de Michael.

- Tá vendo seus merdas? - disseram os americanos - é assim que se produz um show grandioso e divertido para a massa!

E com toda justiça do mundo Michael Jackson foi o rei na década de 80 e ultrapassou qualquer barreira estabelecida. Negros adoraram, brancos também. Ricos curtiram e os pobres simplesmente dançavam aquela mistura em proporções exatas de Rock, Funk e R&B formando assim para o mundo um astro do pop.

E assim como a Cindy Lauper durante muitos anos foi rival de Madonna, Prince também tentou ofuscar o brilho de Michael lançando na mesma década três albúns. Em 1982 tentou jogar mel na sopa de Thriller com o albúm 1999, mas não deu muito certo...já em meados de 1984 conseguiu um sucesso considerado com o ótimo Purple Rain mostrando a todos que ao subir no palco um baixote negro com sua guitarra poderia tornar-se um gigante soul-rock. Já Sig O'The Times (1987) foi singelo e praticamente esmagado por um Michael muito mais "BAD" (1987).

O tempo mostrou nos dois casos quem foi o vitorioso dessa batalha de egos.

No caso do Michael Jackson eu concordo - ele merece ser o rei não só da década de 80 mas de todas as épocas.

No caso da Cindy Lauper com a Madonna - discordo! A Cindy Lauper era muito melhor...

Mas que essa disputa seja causadora de novos estilos sempre!

Que forme novas lendas e novos ícones também.

Que continue a produzir trilhas e mais trilhas sonoras para minha vida!

Pois independende da época ela se perpetua. Um exemplo disso é que a maioria das refêrencias que citei são bandas que estavam no auge quando eu nem havia nascido. E são bandas que estão na playlist do meu ipod até hoje e simplesmente adoro!

Marcelo Lopes
Enviado por Marcelo Lopes em 01/03/2009
Reeditado em 30/03/2009
Código do texto: T1464602