Os dias

Acendo um cigarro e peço um drinque. É fim de tarde e me sinto solitário. Debruçado sobre o balcão minha vida ganha cor e desespero. É sempre assim que termino meus dias... Cansado e contrito com minha própria alma.

Sei que em algumas horas voltarei para casa. E que permanecer neste bar será passageiro assim como a dor, a angústia e o amor que se estabelece de certa maneira em nossa história.

Até ontem, eu estava pensando em escrever uma crônica que relatasse o ofício de escritor. Mas hoje, as poucas palavras que se unem aos meus ínfimos sentimentos me fazem redigir essas melódicas letras manchadas pela melancolia que se aloja em todo ser descontente.

Bebo o primeiro gole. Minha garganta é banhada pelo álcool. Sinto alívio, trago duas vezes e abro um sorriso para o garçom.

Os dias correm, as horas voam, o tempo é feroz e sempre será feroz. No entanto, continuarei aqui, encurvado sobre o balcão de um bar observando o céu que paulatinamente, recebe a noite e suas jóias.

O último drinque não me satisfaz. Peço ao garçom a conta. Em seguida, acendo mais um cigarro e tomo em minhas mãos meu casaco. Caminho pela cidade tétrico e pensativo. Dobrando uma esquina encontro o mar e seus mistérios.

A maresia me consome, esqueço durante alguns momentos todos os meus erros e acertos. Minha mente vazia recebe o nada. Não sei o motivo, mas sinto-me bem, estou vagando pelo espaço e não naufragando meus sonhos.

Como eu gostaria que todos os meus dias fossem assim, sentado na areia úmida, recebendo o vento na face e contemplando as ondas do mar indo e vindo, trazendo e levando a liberdade que perdemos.

Possivelmente, estou encurralado entre meus desejos insanos. Mas, minha crônica só ganha verdade e maestria quando exponho as mazelas que regem meu universo. Assim, permaneço aqui, de braços abertos corro para encontrar o mar. A água morna cobre meus sapatos negros, quero mergulhar...”Você está louco”? pergunta um pescador fitando-me. Louco? Eu? É por isso que a maioria da humanidade é frustrada, porque lhe falta um pouco de loucura.

Deixo de lado as opiniões do pescador. Ando pela areia, a ventania choca-se contra meus frágeis ossos. Percorro meu caminho, jogo beijos para o mar e vou embora deixando minhas pegadas para nunca serem seguidas.

Mayanna Davila Velame
Enviado por Mayanna Davila Velame em 05/03/2009
Código do texto: T1471162
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