A linha

Finalmente o fim da linha. Linha comprida que rompeu fácil. Estragou minha roupa. Abriu meu zíper. Fechei como pude. Agora estou errado, mal vestido. O que as pessoas vão dizer? Pare com isso e continue a caminhar. Não pise nos freios e siga por essa estrada. Estamos perto, afinal. O final parece perto e a linha logo muda de direção. Então sim iremos por ali, devagar para que minha roupa não amasse. Se, de verdade, eu fosse amado, teria uma amante. De repente ela seria interessante. E não teria mais problemas quando precisasse partir – teria para onde ir. Teria uma calça nova. A lua está grande, chego a pensar numa alma, iluminada e poderosa. Sensação de derrota, mas são só algumas estrelas. Faça um pedido. Encontre uma saída. Andei pensando e fiz tudo errado. Queria trazê-la comigo, mas só cabia um. Um dia eu mando buscá-la. Bem onde estiver. Placa sinalizadora: à direita. Logo à frente, uma estação. Estação seca. Minha roupa está molhada e preciso fechar minha calça. Calçado de qualquer jeito, ajeito o meu cabelo. Paro para uma música e tiro uma senhora para dançar. Ela tem cabelos grisalhos e um lindo sorriso. Ouço-a como a noite silenciosa. Calo os meus lábios e dou-lhe um beijo. Amo-a e, finalmente, sinto-me amante. Tenho calças novas agora e um lugar para onde ir. Fim da linha. Linha aquela que arrumou minha roupa.

Milena Verri
Enviado por Milena Verri em 30/04/2006
Código do texto: T147830