Nem tudo está ganho...
O título, por si, já soa bem pessimista. E não é para menos.
Ontem, ao sair da Faculdade, na cidade de Franca, próximo ao Fórum daquela cidade, esperando o ônibus para fazer a viagem de volta para a casa; um grupo de universitários, incluindo a mim, todos companheiros de viagem, fomos abordados por uma pessoa.
A pessoa em questão era um senhor, aparentando uns quarenta e cinco anos, baixo, olhos claros, e trajava uma calça velha, com número acima de seu manequim amarrada com um cordão, uma camiseta, um moleton todo furado e um boné promocional; calçava sandálias de borracha.
Em uma das mãos, carregava uma sacola plástica com alguns trapos; e em sua abordagem, pediu educadamente para um dos colegas que fumava:
_ Um cigarro, por favor. Estou morrendo de vontade de fumar.
O colega prontamente, pegou um de seus cigarros, acendeu e entregou ao homem com tipo de andarilho ou morador de rua.
O homem emendou uma conversa e perguntou de onde éramos, e diante da resposta que éramos de Guaíra-SP, ele disse primeiramente:
_14790-000.
Todos olharam para ele, pois este é o cep de Guaíra, e ele deu várias característica da cidade e de alguns de seus moradores, pessoas ilustres, abastadas como fazendeiros e donos de usinas sucroalcooleiras.
Aproveitando que ficamos interessados ele começou: Barretos é 14780, São Paulo começa no 01000, quando se vai para o sul, começa a aumentar, começando no 90000 e foi dizendo vários cep´s, de várias cidades brasileiras, como Manaus, Campo Grande, Rio de Janeiro.
Perguntei como ele sabia todos aqueles números, e ele disse que por dezessete anos foi funcionário da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.
O ônibus chegou, e nem sequer tive a oportunidade de perguntar àquele homem, o que ocorreu, e nem a causa pela qual um funcionário que trabalhou dezessete anos em uma empresa pública estar naquela situação, morando na rua.
Uma coisa é certa, aquele homem, tem mais tempo de serviço do que eu, que já estou indo para 16 anos de trabalho com carteira assinada. E hoje, aquele homem está lá, em Franca, provavelmente morando na rua, vivendo de auxílio e pedindo cigarros nos pontos de ônibus.
Diante disso, penso que nem tudo está ganho, nem tudo será daqui para frente, como foi até agora; e que antes de ignorarmos uma pessoa que se apresenta, e que tem aquela aparência da qual não gostamos, ou não queremos ver, devemos lembrar que o mundo dá várias voltas, e numa delas podemos tropeçar, cair e ter de tentar recomeçar...do zero.