Olhos que Enxergaram

Logo que cheguei, parti. Partiu meu coração. A dor ressonou e deixou um buraco. Fundo como o meu olhar. Minha boca secou e perdi a noção do tempo. Caí ao relento e sobrei como o nada. Nada fiz, nada pensei. Pisquei e quase me esqueci de abrir os olhos novamente. Olhos que desejaram não existir. Olhos que ganharam uma peste por terem enxergado. Trêmulo, pus-me a chorar. Chorei como um bebê. Bebê aquele que estava ali. Chorar como um bebê... Nem sempre. Porque aquele não chorava. E tinha a face branca como a manta que o cobria. Branca... Não era exatamente isso. Na realidade, faltava essa cor ali. O que eu via era um vermelho. Vermelho como o sangue. Sangue seco que exalava angústia. Perplexo. Senti minhas mãos suarem. Senti frio. Mas meu corpo queimava. Minha cabeça fervia. Meu coração saltava. Estiquei as mãos e toquei-o. Tinha a esperança de um sinal. Sinal de vida. Vida dele. Minha vida. Perdera um filho. Perdi a existência. E ali permaneci, como um bebê: morto.

Milena Verri
Enviado por Milena Verri em 30/04/2006
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