Meu umbigo

Meu umbigo

Sentada na cadeira de final de fila lia mal e pouco aprendia, andei para descansar as pernas e assim achei lugar adequado.

Nas fileiras centrais observo, aprendo e retenho mais e o melhor. O pior aparece sem procurarmos.

Achei o melhor lugar quando achei o meu umbigo.

Um dia, lá bem longe de tudo,inclusive da professora e perto dos piores alunos , porque os que estão longe do mestre não vêm nada , não aprendem nada e não passam nada.

São horas vadias, sem cor, números e imagens, que nos vai levando à cegueira.

Nesses dias minhas mãos passavam em minha barriga, como que procurando algo para preencher o tempo. E achei...

Achei meu umbigo!

Você já percebeu que o umbigo só lhe damos conta se na frente do espelho ou a tato? E na hora do banho? Mas se o umbigo é alheio, não há o menor problema em ver.

Eu achei a tato, embora o lavasse sempre, o achava um corpo estranho ao meu...

Achei e o analisei:

Certinho, sem problemas...Mas...Já o queria trocar de lugar para ver melhor, pensei cá comigo disse:

- Fica aí porque, se foi colocado aí por quem de direito, não sou eu quem o vai trocar de lugar.

Mas o meu interior mudou.

Troquei de lugar na vida, Passei a ver e ouvir melhor e não troquei os ouvidos. Analiso com mais tranqüilidade. E não foi a idade que trouxe isso. Foi a percepção.

Quem olha para seu umbigo, anda de cabeça baixa, e aflito por vê-lo e não sendo possível angustia-se e magoa-se com facilidade.

Quem o toca sabe que tem umbigo, mas para o ver vai ao espelho, contenta-se em ver e sem poder fazer nada é a imagem do espelho ou uma foto e por isso, admira-se e é só.

Tocar sim muda as coisas. No umbigo há um mistério. Liga-nos a nossa mãe, é um sinal de vida achá-lo, trocou meu lugar na sala de aula (vida)

Agora ele até é visto por aí Quem viu gostou eu só vi o meu no espelho e na foto.

Preferi tocar.

É maravilhoso ver, mas tocar é que faz a diferença.

In crônicas @ Crônicas 2009