Cinco minutos com vovó

Eu havia esquecido o valor que tem o tempo. Não falo em horas, minutos, segundos. Refiro-me às experiências vividas numa vida inteira. Acreditar que a maioria das pessoas idosas é enfadonha leva-nos a um grave erro, a um grande equívoco.

Ontem saí para passear com meu cachorro. Saí sem rumo. De tanto ir pelo mesmo caminho, meu companheiro fiel aprendeu onde fica a casa de voinha. Passávamos em frente à casa e dessa vez não foi diferente: com sua respiração ofegante, meu amigo subiu os degraus e adentrou. E lá estava voinha. Com seus cabelos branquinhos e aparentemente frágeis. Ela sorriu para mim e eu a beijei.

Voinha continuava sentada em seu velho sofá, como da última vez que a visitei. Ela conversou sobres seus antigos bichos de estimação e explicou como estes lhes faziam falta. Seus olhos brilharam quando ela falou especificamente de um bichano, o Pacato. Um gatinho lindo que fazia jus ao nome. "Ele era tão companheiro e me seguia por toda parte da casa. Quando eu acordava, lá estava Pacato no tapete junto à minha cama, quando eu ia dormir, do mesmo jeito. Ele parecia entender o que eu sentia e o que eu falava. Pena que o tempo o levou". Disse ela, com os olhos marejados. Naquele momento senti-me inferior a todos os animais. Eu estava sendo incapaz de, na minha racionalidade humana, fazer voinha feliz. Eu um animal racional, não estava sendo capaz de fazer um mínimo de companhia e pior, de dar um mínimo de amor a alguém. Eu não aguentei o fardo de minha racionalidade irracional, despedi-me de voinha com outro beijo, dessa vez na face, e fui embora.

Foram apenas cinco minutos de conversa, mas que me fará refletir por quem sabe, uns 50 anos. Cada momento, cada segundo de experiência vivida em nossa vida, se transformará em estrelas de lembranças e recordações. Elas brilharão ou serão apenas meros astros flutuando no espaço. A nossa função terrena é acender o máximo de estrelas significativas e lançá-las no universo do tempo incontável de nossa vida eterna.

Jó Cavalcanti