Alma minha - meiga amiga.

ALMA MINHA - MEIGA AMIGA

De repente, sinto que estou morrendo.

Talvez o meu mundo não exista mais.

De repente, meus passos vacilam

E não consigo mais seguir a vida.

“Alma minha gentil que te partiste

Tão cedo deste mundo descontente . . .”

O que dirás depois da tua morte

Quando abraçar-me também a mesma sorte?

É que te partiste tão cedo . . .

E, no entanto, sou eu quem tem medo

De deixar esta vida de desenganos e amarguras!

Sinto apagar-se o último alento

E, no entanto, vejo-te no meu pensamento

Ansiando pelo desenlace.

Mas não te iludas, ó doce espírito!

Que a vida é farta de momentos tristes

A retratar o mundo descontente.

E não te deixe abater o esquecimento

Que de há muito fomos esquecidos!

E se é que no limbo ainda existes,

Lá me verás também mui brevemente!

Levar-te versos, não te prometo,

Que deles já fugiste, angustiada,

Como se a fuga não dissesse nada

A quem ficou no mundo sem viver

Levar-te-ei dores de peito magoado,

Marcas de algozes que me fustigaram,

Lágrimas que nunca por mim choraram,

Tantas quantas tenho chorado!

Alma minha, meiga amiga,

Pouco a pouco vou me consumindo

Em dores atrozes, que alucinam,

Tais que não se curam com promessas.

Diria, até, se me permites,

Que são dores dessas . . . incuráveis!

E tu bem sabes que dores d`alma,

De alma pobre assim sofrida

(Que nunca pôde vencer nesta vida),

Nunca . . . nunca, serão consoladas!

João Bosco Costa Marques.