FENÔMENO DO PÃO E CIRCO

Não consigo entender como em um país cheio de problemas como o Brasil, o maior destaque dos noticiários seja a volta do jogador Ronaldo aos gramados.

Não que tenha algo contra Ronaldo e até acho que sua volta ao futebol tem que ser aplaudida, noticiada, dentro da medida certa, afinal é um grande atleta.

Mas daí a ser o assunto principal em todos os jornais, em todos horários, é um pouco demasiado.

Sem dúvidas a figura de Ronaldo, como desportista, é impar. Mas não o considero um ídolo. Ídolos dão exemplos dentro e fora dos campos, das quadras, das piscinas. Mas Ronaldo brilha apenas em campo. Mas fora dele suas atitudes não são exemplos a serem seguidos por adolescentes e jovens.

Apesar de não entender toda essa superexposição de Ronaldo, não me admira a mídia ter como maior atração a volta de Ronaldo, afinal é isso que o povo quer ver.

Afinal, como Alice, nós vivemos no “País das Maravilhas”. Então para que se preocupar, se os deputados querem aumentar seus salários de 16 mil para 24 mil reais. Se o salário mínimo aumentou em 50,00 reais, por que não aumentar o salário de nossos congressistas em míseros 8 mil reais, afinal eles merecem. Trabalham três, cansativos, dias na semana, vivem elaborando e aprovando leis que deixam nossas vidas cada vez melhores.

Ronaldo chutou uma bola na trave no jogo contra o Palmeiras. ÓTIMO, quem quer saber se o Senado gastou 6,2 milhões em horas extras com os funcionários, em pleno mês de janeiro, mês que se Brasília fica vazia, imagine o Congresso. E ainda tem senadores dizendo que é difícil fazer os servidores devolverem o dinheiro, pois o Senado não tem controle de freqüência e caso devolvam, será parcelado com juros de 0%. Acho que nenhum banco ou instituição financeira oferece uma melhor taxa de juros.

Ronaldo fez um cruzamento. MARAVILHA. Isto é mais importante que saber que Sarney voltou a Comandar o Senado e que Collor, aquele mesmo que sofreu impeachmean, agora preside a Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado, uma das comissões mais importantes daquela casa.

Ronaldo marcou no último minuto contra o Verdão. Como diria um amigo: EXECELENTE. Para que se importar se o Supremo Tribunal Federal agora permite que os acusados tomem conhecimento de quem são as pessoas que lhe acusam no decorrer do processo, ficando estas sujeitas a serem acuadas, constrangidas, ameaçadas. Para que nos preocuparmos se agora os acusados de crimes poderão permanecer em liberdade até o caso ser julgado em última instância. Isso não deve ser motivo de preocupação, pois nossa justiça é ágil e em 5, 10, 15 anos, os acusados, casos não sejam absorvidos ou o crime não prescrever, poderão ir para a cadeia.

Por falar em decisões do Supremo, alguém sabe o quanto anda a “Lei da Algema”, que restringia às Policias de usarem algemas na condução dos acusados? Decisão essa que só favorece aos suspeitos ricos.

Coincidentemente todas essas decisões só são tomadas quando envolvem pessoas de alto poder financeiro. Como foi o caso de Daniel Dantas e agora do médico Roger Abdelmassih, acusado de molestar mais de 60 pacientes. Experimente você, cidadão comum, cometer qualquer delito, por menor que ele seja. Você corre o risco de apanhar, ser algemado e jogado “delicadamente” atrás de um carro policial e tenha certeza, nenhum um juiz do STF fará nada por você.

Ronaldo faz mais um gol contra o São Caetano. O país para, afinal o “nosso” presidente é corintiano. O mesmo presidente que disse que a crise econômica mundial é uma marolinha e que apóia a Ministra Dilma Russef como candidata a presidente, aquela mesma, que depois de anos no Governo começou a sair e até fazer metáforas como o presidente da marolinha. Marolinha essa que provocou 4.200 demissões somente na EMBRAER, fora outras milhares de demissões nos mais diversos setores.

Mas para quê nos preocuparmos com tudo isso? Afinal temos o Fenômeno em campo de novo. Todo restante é secundário.

Afinal moramos em um país abençoado por Deus e bonito por natureza. Sem corrupção, sem violência. Com educação e saúde impecáveis. Sem miséria, onde todas as famílias comem três vezes por dia, um Brasil de distribuição de renda justa, sem desemprego. Um país que ninguém precisa de bolsa-gás, bolsa-alimentação, bolsa-esmola.

A única cosia que precisamos é de “bolsa-gol.”

Como diria o imperador romano Vespasiano “Pão e circo para o povo”. No nosso caso, só nos basta “Ronaldo e gols”.

E viva o Brasil, o eterno país do futuro.