CAROS AMIGOS

Os tempos são outros e o calor está demais em pleno outono. Dizem que é o tal efeito estufa e isso deve ser a tal modernidade, ou não. Mas vou andando na conversa quem sabe eu encontro explicação. É tanta informação hoje em dia que me perco nela, é um bla-bla o tempo todo que já ando meio perdido.

A vontade que tenho é de calar-me, mas como fazer isso se me lembro das histórias que o povo contava. Uma delas era do incêndio na floresta onde vários animais se reuniam com medo do fogo, que a devastava, e nenhum deles fazia nada para apagá-lo, ai o beija-flor foi até o rio e encheu seu bico de água e voou para a floresta em chamas. Todos os outros bichos quando o viram retornar para enchê-lo novamente, depois de dezenas de vezes o perguntaram: - Você acredita que pode apagar esse incêndio na floresta? Ele olhou bem sério para todos e disse: - Eu sozinho não vou conseguir muita coisa, mas tenho que fazer minha parte. E partiu.

Outro dia a cidade inundou de turista. Vive disso! Cria-se uma expectativa imensa nesse fluxo turístico no verão. É o que movimenta boa parte da economia da cidade, mas é impressionante como impera a falta de respeito do turista com a cidade. Quem é daqui pragueja essa invasão desrespeitosa.

Eles acham que é só um papel de bala ou outra coisa qualquer, "mais nada", e o jogam no chão. Só que são centenas de milhares de pessoas que descem pela imigrantes para baixada santista. Se cada um recolhe-se o seu "mais nada", e mais um que estivesse por perto não teríamos essa montoeira de lixo voando por todos os lados. Fora a disputa absurda de sons automotivos em altíssimo volume de madrugada, total falta de respeito no transito, mercado, banco, calçada com comportamentos e trajes não permitidos. Os moradores viraram vitimas dos turistas.

Religião ética e filosofia não fazem mais parte do currículo escolar, bem como moral e civismo. Afinal de contas sala de visita virou Orkut, e um papo olho no olho é através de uma webcam. O namorado e os amigos são virtuais, podem estar em qualquer lugar do mundo e isso é modernidade.

Vai-se longe o tempo em que o tamanho do pé é o que marcava a distancias das pedras que viravam traves do gol, quatro pés. E o menino que marcava a distancia das traves em um tinha que marcar no outro, se não a polêmica tava feita, mas logo decidida. Confesso que nunca brinquei de amarelinha, isso era para as meninas.

Mamãe-da-rua, queimada, bete, pique-esconde, amarelinha, garrafão, vôlei, finca, e as bolinhas de gude. Nunca mais os vi na rua. Saudade de um poste com uma luz acessa onde se agrupavam a meninada. Ali se decidiam os namoricos. Reclamava-se ou elogiava o pai e a mãe e da louça pra lavar. Se fosse domingo então dava até castigo, se arranjasse um jeito de não fazê-lo. A pilha de pratos era absurda. Também pudera. Sempre a casa lotava de parentes, amigos, vizinhos. Eu acho que quem sempre se dava bem era o Rex, nosso cachorro, com tanta sobra. Bons tempos aqueles.

Agora é a tal da modernidade? Ter um computador, internet, celular e outra coisa qualquer que tenha um chip ou vários, para substituir o calor dos amigos, é o suficiente. No que isso vai dar? Não sei. Só sei que o planeta precisa de seres humanos. Talvez reunidos sob a luz de um luar numa roda de viola para tentar tirar proveito de tudo isso, e quem sabe nos saberemos o que vestir durante as próximas quatro estações.

DiMiTRi

24/03/08 - 12:07