Vermelho 83

O arrepio no ombro esquerdo e uma alça cai, e é como se aquele único e sóbrio segundo, fosse dias de fantasia. O cabelo é empurrado como se espanasse o que atrapalha e preso com força dentre os dedos enquanto a boca toca a pele sem sentido... Da ponta do ombro um beijo, dois, três, quatro, cinco... Ela já perdeu as forças pra contar.

O calafrio começa na pontinha do pé, na pontinha de bailarina, onde a musculatura fica firme, e se prende dizendo "nãaaao!" a entrega.

Os olhos ardem e se fecham com força de quem não quer ver

, como se pudesse não sentir aquilo tudo. Tudo trava! Sua mão treme, suas unhas avermelham a pele alheia, como se confusas com o esmalte Vermelho 83.

Os dentes travam batalhas com o queixo e o lábio convexo; e como se tudo ali fosse um imenso campo de guerra minado, ela continua... Dura, com os músculos tão presos que parecem petrificar. A respiração se transforma anaeróbica e o oxigenio ali sem necessidade, rarefeito,

como se ambos retirassem do corpo absorto a química que precisa para sobreviver.

O ouvido esquenta e ela ouve coisas tão sórdidas que nem no inferno ousaria pronunciar, ela ri e de uma forma lenta, ela ousa esquecer das coisas que a fazia ficar tão sólida como uma pedreira... Ela relaxa, seu olhar salta no outro e tão vermelho de agonia igual suas bochechas, seus braços, sua coxa, tudo tão vermelho quanto todas as alças caídas jogadas em algum lugar.

As coisas tornam-se tão rápidas que como em uma amnésia alcoólica nada se lembra, um ombro mordido, as costas do outro riscadas com o vermelhodo modo de pintura das criancinhas do jardim. A pele quente, os dedos ágeis, a boca ligeira, o quadril em uma desordem específica... Banho gelado , último cigarro apagado, a porta bate ouve-se um grito: "Amooor, amanha eu apareço". E ela pensa:" no próximo arrepio haverá choro de lágrimas vermelhas".

O mais do mesmo cansa, porque será que eles nunca percebem isso?

CapituLua
Enviado por CapituLua em 24/03/2009
Código do texto: T1503793
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