Caminhos da carne

Tudo começa em um campo lindo e verde, com muita fartura de comida, bebida e sal mineral.

Come-se bastante, pois ganhar peso é muito importante.

Passado algum tempo, chega um caminhão, e os pega aos montes, 20, 30, 50.

A viagem é tortuosa, o motorista certamente sabe que os passageiros não conseguirão reclamar, nem dirão uma palavra, sequer. Quedas, fraturas, solavancos em buracos e todos seguem acomodados em meio ao próprio excremento.

Pronto, chegamos. A entrada é triste, o caminhão para, e com uma forcinha da energia elétrica todos descem, ficando agrupados em cubículos como os da viagem, mas agora, firmes no chão.

É a hora da agonia, algo não está certo, e um jato de água fria molha todos os condenados.

Abre-se a cancela, o corredor é estreito, os choques constantes. O cheiro de sangue começa a ficar intenso, cheiro de morte, cheiro de abate. Eles sentem o cheiro do sangue e instintivamente, tentam voltar, fugir, mas não dá. O choque do ferrão é bem mais forte do que os impulsos elétricos naturais recebidos pelo pequeno e limitado cérebro.

Vão subindo na esteira, um a um, apavorados, entregues à superioridade humana. A pistola do martelo pneumático trabalha incessantemente, derrubando um a um, com golpes na testa. O golpe é preciso, quase fatal. O próximo passo é a sangria. Já na esteira, desfalecido, é desferido o golpe fatal, uma perfuração na artéria mais pulsante, fazendo com que o sangue jorre e contribua mais um pouco para o já impregnado cheiro de morte.

Facas afiadas arrancam o couro, destrincham...cabeça para um lado, tronco, membros, entranhas...tudo é separado, as serras trabalham, num frenético vai e vem, transpondo os ossos como se fossem feitos de cera.

E depois disso tudo, o único sangue que sobra na carne sem vida é o que pinga dos espetos nos almoços e jantares, durante o acelerado atendimento das churrascarias rodízio.

Bom apetite.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 25/03/2009
Reeditado em 25/03/2009
Código do texto: T1504849
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.