Caminhos da carne
Tudo começa em um campo lindo e verde, com muita fartura de comida, bebida e sal mineral.
Come-se bastante, pois ganhar peso é muito importante.
Passado algum tempo, chega um caminhão, e os pega aos montes, 20, 30, 50.
A viagem é tortuosa, o motorista certamente sabe que os passageiros não conseguirão reclamar, nem dirão uma palavra, sequer. Quedas, fraturas, solavancos em buracos e todos seguem acomodados em meio ao próprio excremento.
Pronto, chegamos. A entrada é triste, o caminhão para, e com uma forcinha da energia elétrica todos descem, ficando agrupados em cubículos como os da viagem, mas agora, firmes no chão.
É a hora da agonia, algo não está certo, e um jato de água fria molha todos os condenados.
Abre-se a cancela, o corredor é estreito, os choques constantes. O cheiro de sangue começa a ficar intenso, cheiro de morte, cheiro de abate. Eles sentem o cheiro do sangue e instintivamente, tentam voltar, fugir, mas não dá. O choque do ferrão é bem mais forte do que os impulsos elétricos naturais recebidos pelo pequeno e limitado cérebro.
Vão subindo na esteira, um a um, apavorados, entregues à superioridade humana. A pistola do martelo pneumático trabalha incessantemente, derrubando um a um, com golpes na testa. O golpe é preciso, quase fatal. O próximo passo é a sangria. Já na esteira, desfalecido, é desferido o golpe fatal, uma perfuração na artéria mais pulsante, fazendo com que o sangue jorre e contribua mais um pouco para o já impregnado cheiro de morte.
Facas afiadas arrancam o couro, destrincham...cabeça para um lado, tronco, membros, entranhas...tudo é separado, as serras trabalham, num frenético vai e vem, transpondo os ossos como se fossem feitos de cera.
E depois disso tudo, o único sangue que sobra na carne sem vida é o que pinga dos espetos nos almoços e jantares, durante o acelerado atendimento das churrascarias rodízio.
Bom apetite.